domingo, 11 de novembro de 2012

O absoluto


Deus diz: “Dá-me teu coração”... E logo, em resposta à minha surpresa, eu o escuto dizer: ”Teu coração está onde está teu tesouro”. 
Meus tesouros... Aqui vão eles: pessoas... lugares... ocupações... coisas... experiências passadas... esperanças e sonhos do futuro...
Pego cada um destes tesouros, digo-lhe alguma coisa e o coloco na presença do Senhor...
Como “darei” estes tesouros a Ele? ... Se meu coração está em tesouros passados, então estou fossilizado e morto, porque a vida está no presente.
Então, eu digo adeus aos tesouros passados, a cada um deles e aos meus ontes dourados... A cada um deles eu explico, dizendo que, por mais grato que eu me sinta por terem surgido em minha vida, contudo eu devo partir... Senão meu coração jamais aprenderá a amar o presente.
Meu coração está também no futuro. Seus temores e angústias acerca do amanhã tiram-me a força para viver plenamente o hoje. Faço uma lista destes temores... e digo a cada um: “Que se faça a vontade de Deus”... e fico observando o efeito disto em mim... sabendo, em meu coração que Deus só pode querer o meu bem...
Meu coração está nos sonhos, ideais e esperanças que me fazem viver na ficção do futuro. A cada um destes digo: “A vontade de Deus! Que Ele disponha de vocês como quiser!”
Já tendo recuperado a parte do meu coração que estava em mãos do passado e do futuro, agora examino meus tesouros presentes:
A casa pessoa amada que me causa dependência digo com ternura: “És preciosa para mim, mas não és minha vida. Tenho uma vida para viver, um destino para realizar, bem distinto e separado de ti ...
Aos lugares... às coisas... a tudo a que estou apegado digo também: “Sois preciosos para mim, mas não sois minha vida! Separado de vós é meu destino”...
Digo às coisas que parecem constituir a essência do meu ser: minha saúde... minhas ideologias... meu bom nome e reputação... Digo à minha própria vida, que um dia sucumbirá à morte: “Sois desejáveis e preciosos, mas não sois minha vida... Separado de vós é meu destino”.
Finalmente, eis-me, de pé, ante o Senhor... A Ele entrego o meu coração, dizendo: “Tu és Senhor, a minha vida, Tu és o meu destino”...
(Anthony de Mello sj, in As fontes da Vida, Ed. Loyola, pp. 39-41)

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