O seguimento de Jesus Cristo é uma aventura apaixonante.
Quando ele nos encontra no caminho, provoca uma reviravolta em nossa
existência. Seu olhar amoroso nos cativa e seduz. Seu jeito de ser e agir nos
faz sair da apatia e nos impulsiona a ações concretas. Sua firmeza, ternura e
paixão pela vida e por Deus tocam o nosso coração e nos fascinam.
O coração jovem é terreno fértil para o cultivo da paixão
por Jesus Cristo e por sua causa. É certo, também, que, no desejo de firma uma
relação de amor com Jesus, nem sempre o fazemos de forma saudável. Ou nos
relacionamos com Jesus de forma distante e comercial, ou cultivamos uma relação
meio desconectada com a vida.
Se aprendemos a ver Jesus como alguém que resolve nossas
crises e lida com nossos problemas pessoais, estabelecemos uma relação
comercial com ele, ou seja, de barganha. Por exemplo: "Jesus, se você me
conceder isso, eu faço aquilo". Outras pessoas cultivam uma relação com
Jesus muito "doce", desconectada da realidade, como se ele fosse um
calmante para certos momentos. Certa vez, falando a um grupo de educadores, uma
pessoa disse: "Depois que encontrei Jesus, eu não tive mais
problemas". Em tom de brincadeira, eu respondi: "Engraçado, depois
que eu encontrei Jesus, tive mais problemas!". Sim, porque seguir Jesus é
um projeto ousado, que pode custar a vida. Quem escolhe segui-lo de coração
sincero, vai encontrar perseguição, rejeição e muitos desafios. Quem o segue
deve estar disposto a lutar pela causa dos empobrecidos, pela justiça e pela
fraternidade. Certamente, estar com ele e de coração aberto provoca em nós
muita alegria.
É muito comum em nossos dias a presença de grupos e
movimentos que tentam fazer de Jesus uma figura pop. Então aparecem músicas,
ritmos, movimentos e orações que buscam tornar Jesus tão popular que nos levam
a perder algumas dimensões de sua pessoa e de sua mensagem. É claro que
Jesus é popular. Mas uma relação com ele, baseada apenas no sentimentalismo,
pode empobrecer a experiência, desconectar-se da vida e não ter efeito duradouro.
É como bolha de sabão.
Cultivar uma paixão por Jesus é estar em sintonia com seu
coração. É gostar de sua pessoa e deixar-se atrair por seus ensinamentos.
Consiste em mergulhar na contemplação do seu jeito especial de lidar com as
pessoas e com o Pai. É ser capaz de experimentar o perdão e a misericórdia; é
fazer de cada pessoa um santuário da vida e de Deus. É cultivar relações saídas;
comprometer-se com a causa da justiça, da verdade e Ada paz. É praticar a
solidariedade, sobretudo com os empobrecidos. É cuidar do planeta e da vida. É
buscar andar na luz e preferir a luz em vez da escuridão. Apaixonar-se por
Jesus é deixar que ele modele o coração, é desejar ficar com ele, a fim de ser
formado por ele. Deixar, pouco a pouco, a vida e as atitudes serem pautadas
pelo seu jeito de ser e agir.
Na prática, isso faz muita diferença. Jesus se torna para
nós inspiração, guia e luz a orientar nossos passos e projeto. Não é uma
solução fácil das nossas necessidades, mas um modelo de vida, um chamado
incessante, um compromisso a assumir. Ele se faz realmente caminho, verdade e
vida. Desta maneira, Jesus acaba se tornando a razão de ser de nossa
existência.
Se você tem intenção de segui-lo mais de perto na sua
comunidade, na família, na vida religiosa ou sacerdotal, lembre-se de que
haverá muitos momentos de alegria e profundo contentamento. Jesus preenche o
coração e dá sentido à vida. Mas é bom saber que também haverá momentos de
dúvida, de incertezas e de luta interior. Isso tudo faz parte da caminhada.
Quem se apaixona por Jesus deve se apaixonar pelo Evangelho
e se tornar portador da boa noticia num mundo que valoriza os acontecimentos
trágicos e negativos. Nosso povo anseia p
or notícias boas: emprego, salário
digno, saúde, educação para todos, pás benfazeja. Cultivar a paixão pelo evangelho
é tomar a mensagem de Jesus como critério iluminador de nossas decisões e de
nossa prática de vida. O Evangelho tornar-se luz, inspiração e critério de
discernimento para os projetos humanos. A Boa-Nova de Jesus se transforma em
alimento cotidiano que anima e dá coragem para lutar contra as injustiças que
geram morte e para dar sentido às diferentes experiências da vida.
E a paixão pelo Reino de Deus? Quem se apaixona pelo Reino dá a vida por ele. O Reino é
uma situação na qual todos podem desfrutar a vida em plenitude, mesmo em meio
às lutas e aos sacrifícios do dia-a-dia. O Reino acontece misturado com as
experiências cotidianas, de forma simples, escondida, mas transformadora. Não é
algo que temos de esperar de braços cruzados. É uma construção da comunidade,
dos grupos, da sociedade. Não é obra só nossa. Precisamos contar com a graça de
Deus e a força de Jesus.
Em cada pequeno gesto de perdão, acolhida, partilha,
sinceridade, fidelidade e transparência, experimentamos o Reino. Apesar disso,
não se esgota nem termina aí. O Reino de Deus é dinâmico, pois, enquanto
acontece, vai se construindo.
O Reino acontece perto de você, no seu coração, no seu bairro,
na sua casa, no trabalho, na vida. Ser apaixonado pelo Reino é acreditar numa
sociedade em que todos tenham direito aos recursos necessários para viver, e
viver com dignidade. O Reino é como o
fermento (cf Mt 13,33); como o grão de mostarda (cf Mt 13,31-32); como a
semeadura da semente (cf Mt 13,1-23); como o terreno com o joio e o trigo (cf
Mt 13,24-30) 36-43); como o tesouro e a pérola (cf Mt 13,44-46); como a rede lançada
ao mar (cf Mt 13,47-50).
Para conhecermos bem Jesus e sua proposta e desenvolvermos
a paixão por ele, pelo Evangelho e pelo Reino, podemos nos servir de algumas
fontes importantes, como a Palavra de Deus, os acontecimentos e as coisas do
cotidiano, o mundo dos pobres e a oração.
Autor: Vanderlei Soela
Extraído do livro: Cativados pelo amor –
Editora Paulus
Nenhum comentário:
Postar um comentário