
O amor do Cântico dos Cânticos é luta e fadiga, exatamente como a morte (Ct 8,6), não é idealizado, mas cantado na consciência das suas crises e das suas perdas. A busca comporta cansaço, pede para levantar-se e para colocar-se a caminho, requer assumir a obscuridade da "noite". A noite é ausência, separação ou daquele que o coração ama; e o quarto da esposa, de lugar de repouso e de sonhos, se muda em prisão e lugar de pesadelos e tormentos (cf Ct 3,1). A esposa, protagonista principal do drama, busca o amado, mas ele está ausente. É necessário buscá-lo sair "pelas ruas e pelas praças" (Ct 3,2). Desafiando os perigos da noite, devorada pelo desejo de reabraça-lo, a esposa põe a eterna pergunta: "acaso vistes, vós, o amado de minha alma?" (Ct 3,3). É a pergunta lançada no coração da noite, que suscita a alegria da recordação dele, renova a ferida de uma distância insustentável. A esposa está sem dormir.
distanciamento 
A mulher na busca do esposo age por um conhecimento pessoal do seu sentir. Perscruta a sua intimidade e se descobre "doente de amor" (Ct 1,5; 5,8). Esta doença significa a "alteração" da própria condição, o fato de que em virtude do encontro com o amado se sente irreversivelmente marcada, "alterada", isto é, se torna, dedicada, consagrada ao outro que preenche de sentido os seus dias. Tal é a condição de qualquer um que ama verdadeiramente.
Somente quem supera o labor da noite com o nome do amado nos lábios e o seu rosto impresso no coração, certo do vínculo que o une, pode saborear a refrescante alegria do encontro. O fogo do amor põe em relação de fusão os dois enamorados que, unidos pelo inverno da solidão, saboreiam a primavera da comunhão competindo mutuamente para celebrar com paixão e poesia a beleza do outro.
Contemplai, aos consagrados e às consagradas sobre os sinais da beleza, n.8
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