Caríssimos,
Ontem fui à pré-estréia do filme Homens e Deuses (Literalmente a tradução seria de homens e de deuses). Trata-se do relato da vida e martírio de monges trapistas de um vilarejo na Argélia (Thibirine) em 1996, cujo entorno era majoritariamente formado por muçulmanos, dos quais uma parte era (é) fundamentalista. Os monges tinham uma vida alternada de oração e trabalho, com destaque para a vida comunitária interna e externa, pois participavam dos momentos intensos da vida do povo local. A inspiração original e a efetiva atuação dos monges eram de empenho pacífico na convivência com todos, inclusive com os fundamentalistas. A partir do assassinato de alguns estrangeiros trabalhadores, por parte de fundamentalistas, a situação fica tensa e, em meio a reflexões e discussões comuns, os monges decidem ficar, sendo a sua maioria assassinada em 1996, sobrevivendo apenas dois (o mais idoso que se escondeu debaixo da cama [morto em 2008] e o porteiro daquela noite, que não foi visto pelos seqüestradores, pois entraram por outra portaria [ainda vivo residindo num mosteiro no Marrocos]).
A partir do filme surgem em minha mente e coração algumas questões para reflexão as quais compartilho:
v O testemunho humano-cristão é eloqüente principalmente pela densa qualidade da presença humana e solidária com os pobres e sofredores, dispensando discursos sentenciais. Daí que a força performática é infinitamente mais determinante que a locução.
v A motivação para viver é também a que dá sentido ao morrer, o que torna a pessoa marcada por uma liberdade capaz de conservar o espírito sereno apesar do medo e das dores que aparecem durante os conflitos.
v É importante não ter vergonha dos dramas interiores que se tem diante dos acontecimentos e grandes decisões da vida. As escolhas fundamentais não são fáceis, mas nem por isso supõem super-homens e super-mulheres para fazê-las, o que seria ilusão. O sim a um motivo fundamental é muitas vezes o desfecho de muitos nãos ruminados em meio a angústias.
v Quando se tem um ideal de vida bem esclarecido, no caso dos monges, um profundo amor por Jesus de Nazaré e o seu projeto, é possível tematizar e debater a vida de forma objetiva, sem deixar-se influenciar pelos melindres comuns de uma subjetividade ainda não amadurecida.
v Nem mesmo as pessoas pelas quais se luta em defesa da sua vida e da sua paz, estão isentas do ressentimento e são capazes de compreender um amor perdoador indiscriminado, focado na vida e dignidade da pessoa humana.
v A fé precisa ultrapassar o ressentimento para ser verdadeiramente libertadora e fomentadora de um mundo transformado pela paz.
v É importante ouvir o outro com atenção, inclusive nas suas situações mais contraditórias, porque ali ele pode ser propriamente o que é, acolhendo as decisões que brotam de sua autonomia e que expressam sua liberdade.
v O convívio pacífico entre as religiões dificilmente ocorrerá sem uma espiritualidade enraizada no reconhecimento intersubjetivo solidário, que é revelador do Deus que habita o coração de cada ser humano.
Depois de ver o filme, agradeci a Deus pelos cristãos e muçulmanos da Argélia que vivem um esforço conjunto de paz e senti que o caminho que tenho pra percorrer neste sentido é ainda muito longo, mas tenho esperança.
Fraternalmente,
pe. Antonio Lisboa Lustosa Lopes
Arquidiocese de São Paulo - Região Ipiranga - Área Pastoral N. Sra de Fátima
pe.lisboalustosa@yahoo.com.br
Wow este é um ótimo post. Eu só vivia lendo. Ele contém informações tanto. Eu realmente gostei de ler seu artigo e eu simplesmente adorei .... Obrigado por publicá-la e manter o bom trabalho. Que Deus os abençoe.
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