Próximo ao mosteiro das Clarissas, cresciam lindo parreirais, cultivados pelas mãos hábeis dos lavradores. Mas, veio a seca que esgotou a terra. Nos parreirais, sobravam galhos secos que estalavam entre os dedos contorcidos dos lavradores.
O céu se debruçava sobre a terra com o semblante carregado de dor. a fome se alastrava campo afora.
Um pobre lavrador padecia, com a mulher e três filhos, a fome que aniquilava a vida humana. Pondo o orgulho de lado, dirigiu-se ao mosteiro. Lá foi atendido gentilmente pela irmã porteira. Expondo-lhe a situação, pediu que ao menos lhe conseguisse três pães e uma jarra de vinho, pois a família não subsistiria sem esse ato de caridade.
Tomada de emoção, a monja foi consultar a superiora. E logo retornou sorridente, com os tês pães e a jarra de vinho que passou às mãos do pobre homem. Quase sem jeito, ele agradeceu-lhe e completou com a frase presa na garganta:
- Irmã, estou envergonhado, mas preciso dizer-lhe que necessito dessa gentileza por mais alguns dias, e não apenas hoje.
A irmã tranquilizou-o, dizendo que poderia voltar sempre que necessário, que encontraria ali o alimento de que tanto precisava.
A cena repetiu-se por uma semana, um mês, e completou um ano.
Finalmente, a água sagrada rolou, desceu em mananciais do céu, regou as veias da terra e devolveu a vida dos parreirais. O lavrador, agora repleto de felicidade pela colheita, foi ao mosteiro e entregou às irmãs um cesto com cachos de uva.
A irmã sentiu um desejo irresistível de provar daquela uva tão saborosa, mas se lembrou da superiora, merecedora de tal presente, por ter sido ela quem autorizara os donativos.
A superiora recebeu, com alegria, o cesto que lhe despertou na memória a lembrança de uma das mojas. Doente há mais de dez anos, tinha dificuldades em se alimentar bem. Talvez essas uvas lhe abrissem o apetite. A enferma recebeu o presente com satisfação, ma lembrou-se da irmã cozinheira que, há tempo, entrava e saía de seu quarto. Resolveu então premiar tão grande abnegação. Levantou-se da cama e, com o apoio de uma bengala, dirigiu-se à cozinha, colocando entre as mãos da cozinheira o sinal de sua gratidão. A cozinheira recebeu as uvas com lágrimas nos olhos, e já ia prová-las, quando lhe ocorreu que o mosteiro havia recebido, naquela tarde, um bem precioso, uma noviça que agora estava no seu quarto a orar. Se ela recebesse essas uvas, certamente se sentiria plenamente acolhida pela comunidade. A noviça alegrou-se com a lembrança da irmã cozinheira, recebeu as uvas. quando se preparava para prová-las, lembrou-se que seria melhor entregá-las à monja que lhe abriu as portas do mosteiro. Foi assim que, estupefada, a irmã porteira recebeu de volta os cachos das saborosas frutas.
Em meio a sua alegria, levou-as novamente para a superiora. Esta mandou reunir todas as monjas, na hora do recreio, e juntas partilharam do presente do lavrador.
Autor desconhecido
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