Quando falamos do “Serviço de Animação
Vocacional”, ou propriamente na “Pastoral Vocacional”, pensamos imediatamente
em “Promoção Vocacional” e isto nos faz erroneamente pensar que a Animação
Vocacional se reduz ao serviço de promover as vocações específicas:
“sacerdotais, religiosas e missionárias”. O trabalho vocacional é mais amplo e
exigente, pois indica que se deve percorrer um longo itinerário vocacional que
começa no batismo de todo cristão, e que a primeira vocação da qual somos
chamados é a vocação à vida.
Toda vocação nasce a partir do batismo, como já afirmavam as reflexões do 2º
Ano Vocacional do Brasil (2003). Se é verdade que toda vocação nasce do
batismo, ela deveria ser cultivada no seio da família e da comunidade eclesial,
que tem a missão de ajudá-la na confirmação dos sacramentos. Isto exige
cultivo, terreno fértil, oração da família e da comunidade, de modo que todas
as vocações encontrem seu lugar e missão. Refiro-me às vocações específicas ao
ministério ordenado e à vida consagrada, bem como às vocações laicais do
matrimônio e dos vários serviços e ministérios a serviço da vida e da missão.
Pelo batismo somos chamados como “discípulos e missionários de Jesus Cristo em
favor da vida”, já nos recordou a Conferência de Aparecida.
É bom lembrar que antes do Concílio Vaticano II a animação vocacional estava
reduzida à “Obra das Vocações Sacerdotais”. Tudo girava em torno da figura do
padre. Após o concílio, com a redescoberta do conceito “Povo de Deus”, o
significado da vocação foi melhor compreendido. Passou se criar uma consciência
vocacional, embora tenhamos um longo caminho para percorrer e somos
interpelados por Deus.
Na Exortação Apostólica “Pastores Dabo Vobis” (cf. PDV, 34), de João Paulo II,
lemos: “o cuidado que a Igreja deve ter com as vocações não é uma simples parte
de uma pastoral global, mas uma dimensão conatural e essencial de toda a
evangelização”. João Paulo II, no início do Terceiro Milênio,
volta a surpreender afirmando que a Igreja não deve apenas promover e animar as
vocações para o presbiterato, mas deve motivar e incentivar cada uma, ou
seja, todas as vocações (cf. NMI, 46).
A animação vocacional é um dever de toda a comunidade cristã
Neste sentido a animação vocacional é um dever de toda a comunidade cristã,
a qual, pelo testemunho de uma vida plenamente cristã, se torna mediadora da
vocação divina (cf. OT, 2). Dentro desta perspectiva, a
paróquia, e todas as comunidades que a ela estão ligadas, deve se comprometer
com o serviço de animação vocacional, mesmo que haja uma Equipe Vocacional
Paroquial (EVP), ou Pastoral Vocacional, responsável. Na animação
vocacional deverão estar presentes todas as pessoas da comunidade, considerando
o fato que a Igreja é “ mysterium vocationis”, ou seja, Povo de Deus convocado
e reunido pela Trindade (cf. PDV, 34).
A animação vocacional procura incentivar a ação de toda a Igreja, de toda a
comunidade e de suas pastorais e movimentos afins, no sentido de mediar o
chamamento divino dirigido a todas as pessoas.
Na maioria das paróquias a animação vocacional está restrita apenas a alguns
momentos fortes. Para se criar uma consciência vocacional temos que desenvolver
uma atividade vocacional permanente. Por isso é grande a urgência “que se
difunda e se radique a convicção de que todos os membros da Igreja, sem
exceção, tem a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (cf.
PDV, 41).
Quando o pároco se torna o primeiro animador vocacional a paróquia passa a
redescobrir o valor de se despertar e cultivar uma “cultura vocacional”.
Portanto, uma paróquia toda “vocacionalizada” será uma paróquia onde as pessoas
terão o prazer de participar na alegria e colaborar com entusiasmo nos vários
serviços e ministérios. Uma pastoral que sente-se vocacionalizada é uma
pastoral que age por convicção e fé de que foi chamada para o serviço na Igreja
e não simplesmente para ocupar mais um espaço. Uma pastoral, ou movimento
eclesial, que tem a consciência vocacional do chamado divino gera testemunho de
vida, amplia a ação pastoral, atrai e cultiva as vocações específicas para o
sacerdócio presbiteral e para a vida consagrada, sem mencionar a qualidade da
participação dos fiéis nas celebrações e eventos programados no âmbito
paroquial.
Lembremos que um dos méritos do Concílio Vaticano II foi pensar a Igreja a
partir de uma nova eclesiologia, dando assim suporte a uma ação de maior
comunhão e de maior participação de todas as pessoas batizadas. Somos frutos do
Concílio Vaticano II, somos a “Igreja, Povo de Deus, a serviço da vida”
(cf. tema do 2º Congresso Vocacional do Brasil).
Fazer animação vocacional na paróquia supõe, antes de mais nada, uma
conscientização vocacional de que todas as pastorais e movimentos são chamados
a despertar uma “Cultura Vocacional”, a qual podemos denominar de “vocacionalização”
das pastorais e movimentos. As paróquias que estão investindo neste campo
colherão seus frutos: adolescentes e jovens que optam pela orientação
vocacional são acompanhados pela Pastoral Vocacional e, destes, alguns poderão
ingressar nos seminários e casas religiosas, outros bem orientados
vocacionalmente buscarão a vocação do matrimônio, permanecendo engajados na
comunidade e fazendo da paróquia o lugar da comunhão e da partilha.
Relaciono a
seguir dez dicas vocacionais para os párocos e suas paróquias:
- Ter presente uma
questão eclesial: Que tipo de paróquia queremos no século XXI?
- Trabalhar para que o
Serviço de Animação Vocacional (SAV) não seja mais uma “pastoral
setorial”, mas a coluna vertebral de toda a paróquia.
- Criar uma Equipe
Vocacional Paroquial (EVP) – Pastoral Vocacional.
- Empenhar-se com todas
as forças para uma “consciência vocacional” em todas as pastorais e
movimentos.
- Aprofundar o conceito
teológico de vocação, avaliando sempre que tipo de teologia e de espiritualidade
sustenta a prática das pastorais e movimentos na paróquia.
- Estar em sintonia com
a mentalidade dos jovens para transmitir a mensagem vocacional. Realizar
um esforço neste sentido e ir até eles (cf. desafios das “novas praças
vocacionais” – cf. Documento final do 2º Congresso Vocacional do Brasil – estudos
da CNBB 90).
- Empenhar-se na
conscientização da vocação da família através das visitas familiares e
atividades afins – motivar o trabalho da Pastoral Familiar.
- Interação entre a
Pastoral Vocacional e as outras pastorais, especialmente: Pastoral da
Juventude, Pastoral Familiar, Pastoral Catequética e Pastoral Litúrgica.
- Acolher os jovens
vocacionados. Muitos serão frutos destas pastorais. Levar a sério o
“Itinerário Vocacional” até o ingresso em um seminário ou casa de
formação.
- Despertar na paróquia
a oração pelas vocações e a atualização de bons conteúdos vocacionais
podendo ser utilizados materiais específicos, caso das “celebrações
vocacionais”.
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