Tenho Sede!
“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e
carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e
sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis
descanso para vós” (Mt 11,28-29).
Caros irmãos, a Comissão para os Ministérios Ordenados
e a Vida Consagrada sente-se no dever de saudá-los, cordial e fraternalmente,
por ocasião do Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, anualmente
celebrado na solenidade do Sagrado Coração de Jesus. A Igreja
realiza este Dia Mundial de Oração com a finalidade de ajudar os
presbíteros a aprofundar a união com Jesus Cristo e com os irmãos e as irmãs, na
fidelidade aos compromissos assumidos na ordenação presbiteral. “A vocação
sacerdotal é um dom de Deus, que constitui certamente um grande bem para aquele
que é o seu primeiro destinatário. Mas é também um dom para a Igreja inteira,
um bem para a sua vida e missão (CNBB, Doc. 93, nº 104). Por isto, neste
dia, as comunidades, a quem servimos pastoralmente, são convocadas a rezar
conosco e por nós para a nossa santificação.
Estamos em plena vigência da mudança de época. Tudo
muda rapidamente, até mesmo na vida e no ministério presbiteral. No entanto,
uma coisa permanece para sempre: a nossa configuração com Jesus Cristo (Cf. PDV
5). O sacramento da ordem nos
configura e nos incorpora a Jesus Cristo, santo, misericordioso, manso e
humilde de coração. Quem é ordenado entra numa ordem, a ordem presbiteral. Esta
configuração e esta incorporação nos candidatam à santidade, enquanto
presbíteros. “Do ser configurado com Cristo decorre um agir conforme ao de
Cristo” (CNBB, Doc. 93, nº 50).
A nossa missão, irmãos, enquanto ministros ordenados têm
seus segredos, seus encantos e suas paixões. O segredo da vocação presbiteral está
no encantamento por Jesus, por sua Igreja e pelo seu povo. Ninguém segue
fielmente, por muito tempo, a alguém por quem não tenha encantamento. O segredo
da fidelidade
presbiteral radical está no encantamento por Jesus, por sua pessoa e por seu
projeto de vida. O segredo do seguimento missionário está no
encantamento pelo estilo e pelo modelo de vida missionária de Jesus. O segredo
da vida
missionária está na capacidade de se encantar ou se reencantar cada dia, de
começar sempre de novo, sem olhar para trás. Quem assim não vive, a chama da
vocação se apaga, a vida perde o sentido, vira rotina e
dificilmente se mantém, por muito tempo, na missão.
Como os apóstolos,
tornamo-nos discípulos missionários de Jesus, deixando barcos, redes, pátria,
família e projetos pessoais. Às vezes, após um tempo de caminhada, a vida de fé
é invadida por uma crescente insensibilidade; os valores evangélicos vão perdendo
sentido; a oração vai se tornando árida e fatigante; os compromissos
apostólicos ou sociais vão perdendo a novidade; experimentam-se desilusões e
fracassos; e o pior, a escuridão que nos leva para longe do Senhor.
A oração, no entanto, constante e bem feita faz
milagre. Jesus diz que há alguns demônios que só podem ser expulsos pela oração
(Mc 9,29). Vejamos o exemplo do sacerdote Zacarias que, em meio à crise que o
levou à mudez, decorrente do não acreditar na promessa de gerar um filho, mesmo
na velhice, compôs este cântico que rezamos todas as manhãs, nas laudes da
Liturgia das Horas: “...de conceder-nos
que, libertos do inimigo, a ele nós sirvamos sem temor, em santidade e justiça
diante dele, enquanto perdurarem nossos dias” (Lc 1,72-74). A oração o
salvou da mudez e da esterilidade.
A busca da santidade deve ser uma constante em nossa vida. Renovar cada dia o compromisso com
Jesus, optando pelo radicalismo do evangelho de forma mais lúcida e madura,
leva-nos à santidade. Esta não deve ser buscada por motivos emocionais e psicológicos
e sim pela configuração a Jesus Cristo, Homem de oração. É a santidade que nos
conduz à pobreza e ao compromisso solidário com os pobres e excluídos da
sociedade. Para se viver esta santidade, é necessário que a cada dia aconteça
em nós a conversão pessoal e pastoral. Somos santos, à medida que nos deixarmos
conduzir pelo Senhor na fé, na cruz e na esperança.
O cuidado da vida espiritual, o qual nos afasta da
tibieza, deve ser um dever que infunde fé, esperança e alegria. Os fiéis têm sede
de presbíteros, homens de Deus,
conselheiros, mediadores de paz, amigos fiéis e prudentes, guias seguros em
quem confiar nos momentos duros da vida para encontrar conforto e segurança. O
Documento de Aparecida lembra que "o
povo de Deus sente a necessidade de presbíteros discípulos: que tenham profunda
experiência de Deus, configurados com o coração do Bom Pastor, dóceis às
orientações do Espírito, que se nutram da Palavra de Deus, da Eucaristia e da
oração; de presbíteros missionários: movidos pela caridade pastoral que os leve
a cuidar do rebanho a eles confiado e a procurar os mais afastados pregando a
Palavra de Deus, sempre em profunda comunhão com seu Bispo, com os presbíteros,
diáconos, religiosos, religiosas e leigos; de presbíteros servidores da vida:
que estejam atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa
dos direitos dos mais fracos, e promotores da cultura da solidariedade. Também
de presbíteros cheios de misericórdia, disponíveis para administrar o sacramento
da reconciliação” (DAp 199).
Na homilia da missa crismal, na quinta feira-santa, o papa
Francisco disse que “as pessoas
agradecem-nos porque sentem que rezamos a partir das realidades da sua vida de
todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças. E,
quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo,
animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: ‘Reze por
mim, padre, porque tenho este problema’, ‘abençoe-me, padre’, ‘reze para mim’…
Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é
transformada em súplica - súplica do povo de Deus. Quando estamos nesta relação
com Deus e com o seu povo e a graça passa através de nós, então somos
sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens”.
Temos, portanto, três campos
ou três espaços para o nosso trabalho que nos fazem homens de três lugares: o púlpito e o altar, de onde distribuímos o pão da
palavra e o pão da Eucaristia; o confessionário, de onde exercemos o ministério
do perdão; e a estrada, onde gastamos nossa vida em busca das ovelhas perdidas.
Caríssimos, o nosso querido papa Francisco nos quer “pastores com cheiro das ovelhas”. Ele
também diz preferir uma “Igreja
acidentada por sair de si, do que uma doente por fechar-se em si mesma”.
Que Deus Pai renove em nós, presbíteros, o Espírito de
santidade, com o qual fomos ungidos, e renove também nossas mentes e nossos corações
para que o povo sinta que somos discípulos missionários de Jesus Cristo,
comprometidos com o evangelho da vida e da santidade.
Unamo-nos, rezemos uns pelos outros e contemos também com
a oração do povo para permanecermos firmes na fé, na oração e na missão para sermos
pastores segundo o Coração de Jesus.
Palmas, 19 de maio de 2013
Festa de Pentecostes
Dom Pedro Brito Guimarães,
Arcebispo metropolitano de Palmas e
Presidente da Comissão para os
Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada
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