“- Ah! disse eu ao principezinho, são
bem bonitas as tuas lembranças, mas eu não consertei ainda meu avião, não tenho
mais nada para beber, e eu seria feliz, eu também, se pudesse ir caminhando
passo a passo, mãos no bolso, na direção de uma fonte!
- Tenho sede também... procuremos um
poço...
Eu fiz um gesto de desânimo: é absurdo
procurar um poço ao acaso, na imensidão do deserto. No entanto, pusemo-nos a
caminho.
Já tínhamos andado horas em silêncio
quando a noite caiu e as estrelas começaram a brilhar. Eu as via como em sonho,
porque tinha um pouco de febre, por causa da sede. As palavras do principezinho
cansavam-me na memória.
- Tu tens sede também? perguntei-lhe.
Mas não respondeu à minha pergunta.
Disse apenas:
- A água pode ser boa para o coração...
Não compreendi sua resposta e
calei-me... Eu bem sabia que não adiantava interrogá-lo. Ele estava cansado.
Sentou-se. Sentei-me junto dele. E, após um silêncio, disse ainda:
- As estrelas são belas por causa de uma
flor que não se vê...
Eu respondi “é mesmo” e fitei, sem
falar, a ondulação da areia enluarada.
- O deserto é belo, acrescentou...
E era verdade. Eu sempre amei o deserto.
A gente se senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se escuta nada. E no
entanto, no silêncio, alguma coisa irradia...
- O que torna belo o deserto, disse o
principezinho, é que ele esconde um poço nalgum lugar...
Fiquei surpreso por compreender de
súbito essa misteriosa irradiação da areia. Quando eu era pequeno, habitava uma
casa antiga, e diziam as lendas que ali fora enterrado um tesouro. Ninguém, é
claro, o conseguira descobrir, nem talvez mesmo o procurou. Mas ele encantava a
casa toda. Minha casa escondia um tesouro no fundo do coração...
- Quer se trate da casa, das estrelas ou
do deserto, disse eu ao principezinho, o que faz a sua beleza é invisível!
E, caminhando assim, eu descobri o poço.
O dia estava raiando.”
(A.Saint Exupéry, O Pequeno Princípe,
pp.78-80)
“O
deserto é fértil” (D.Helder).
O deserto, na experiência bíblica, é o lugar da passagem constante da
escravidão à liberdade. O deserto é a experiência pela qual Deus faz passar
Israel para que surja como povo antes de entrar na Terra Nova: tempo de purificação e de vida em
marcha, peregrinos apegados somente
em Deus.
No deserto Israel aprendeu a
descobrir e a confiar em Deus. Longe da segurança do Egito emerge o que há no
fundo de seu coração.
Os profetas cantam o tempo do
deserto como tempo das obras maravilhosas de Deus.
O deserto é o lugar da Aliança,
escola de intimidade com Deus.
Jesus, como todos os profetas, antes
de entrar em missão é conduzido pelo Espírito ao deserto (Mc 1,12; Lc 4,1).
Jesus recorria a esta experiência em meio à sua vida ativa: afastava-se para
lugares solitários (Lc 5,16).
No deserto temos a possibilidade de
reconhecer a ação de Deus em nós com outra luz e com outra força.
A experiência do deserto é a de um “tempo” e “lugar” de decisão, de orientação decisiva da vida.
O mestre do deserto é o silêncio. O deserto tem valor porque
revela o silêncio. E o silêncio tem valor porque nos revela Deus e a nós
mesmos.
Quem anda no deserto sente
profundamente o que é o “nada”. Foi no deserto que o povo de Israel sentiu
profundamente sua pequenez e total dependência de Deus.
O deserto grita o nosso nada, o
deserto elimina todas as distrações, o deserto nos coloca entre a areia e o
céu, o nada e o tudo, o eu e Deus. O deserto é o grande auditório para
ouvir Deus.
PARA AJUDAR A REZAR:
Revisão da Oração - A revisão não é descrição passo a passo do que
aconteceu na oração, mas uma tentativa de registrar a experiência no nível do
sentir. A questão-chave é “o que aconteceu durante e ao final da oração?”; não
que ideias, conhecimentos novos tive, mas “o que sinto/senti a respeito do que
me ocorreu durante a oração”.
Graça - Senhor, vem ao meu encontro e me acompanhe neste deserto.
PALAVRA DE DEUS - Sl 23(22) - O Senhor é meu pastor!
Revisão da Oração - Sinto vontade de fazer a experiência do deserto?
Por quê?
Nenhum comentário:
Postar um comentário