Foram servidos pratos típicos e bebidas
alcoólicas. Bandas e rappers haitianos se apresentaram. O padre Paolo Parise, 48, estava exausto. Completava uma jornada de 16
horas sem descanso. E ainda teria que ajudar a equipe, composta por cerca de 50
funcionários e outros três padres, a limpar o salão da festa, onde têm dormido
quase duas centenas de refugiados.
O número tende a aumentar. O governo
Tião Viana (PT), do Acre, anunciou, no início da semana, que quase mil
imigrantes viajariam a SP. O prefeito Haddad (PT) e o
governo Dilma (PT) dizem que não foram avisados. O município
afirmou que procuraria um abrigo. O governo federal suspendeu as viagens saindo
do Acre. Mas, ainda na sexta (22), 43 haitianos aportaram na
cidade. Sobrou para a paróquia. Com colchonetes no chão, caldeirões de sopa à
noite e aulas básicas de português, a Missão Paz, organização católica da qual
o padre faz parte, acolhe os imigrantes.
Em geral,
Parise, italiano da região do Vêneto, acredita estar cumprindo a sua missão. Mas, às
vezes, sente-se impotente. "Você arruma emprego para 20 e logo chegam mais
50. O estresse é psicológico e físico", descreve, em português fluente com
resquício do sotaque italiano. "A equipe está
sobrecarregada." Que o prove a
agenda de Paolo. Seus
dias têm começado às 7h e terminado à meia-noite. O celular não para. Mas Parise parece treinado a lidar com adversidades.
Mostra
encantamento com cenas corriqueiras. Vê beleza nas tradições de pessoas mesmo
quando estão no extremo da sobrevivência.
A festa da Bandeira era um desses momentos. Achava "maravilhosa" a
liberdade com que os haitianos se expressavam por meio da língua crioula, da
dança e da música. Mas tudo tem limite.
Às 23h30, o
padre teve que, enfim, dizer não. "Dançar? Não, obrigado. Prefiro olhar sentado", recusou com o bom humor e o afeto
costumeiros. Parise consagrou-se o padre dos haitianos em São Paulo. Chama-os
pelo nome. Recebe visitas daqueles que, anos depois de instalados, ainda o
procuram. Celebra casamentos e batizados.
A maioria é evangélica. Mas não só os
30% católicos se apegam. Todos estabelecem uma relação, que começa pela
confiança, ele nota. A espiritualidade "aflora um pouquinho
depois", uma vez digerido o drama da migração. O fato é que a presença
haitiana nas missas de domingo é assídua. "Quando começamos com 'bonjour'
[bom dia em francês], rostos se iluminam", observa Parise.
Sua missão não
foi sempre essa. Na
primeira passagem por São Paulo, entre 1999 e 2007, Parisi morou em favelas da
zona sul e viveu "verdadeiras cenas de cinema".
O padre narra uma delas, com direito a briga entre mulheres, fuga de carro e
mordida no braço. O trabalho com jovens logrou reduzir a violência, diz
Parise, levando-o a se mudar.
"Somos
parte de um grupo de padres meio malucos que, quando está tudo bem, vão
embora", relata. Por ora, não há sinal de trégua. Mas que não venham
tratá-lo como herói. "Eu infarto", brinca.
Fonte:
http://www.portalmetropole.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário