O mundo se agita em guerras e apavorado pela ameaça nuclear. Dois terços da humanidade padece fome. O continente latino-americano se debate, tentando se libertar das garras de países ricos e de multinacionais. E no Brasil milhões vegetam na miséria extrema.
Nesse momento histórico de tanta pobreza que castiga nações inteiras de famintos e oprimidos, sente-se no ar o clamor surdo de gente sem vez nem voz: "Somos um povo que quer viver! Queremos alimento, moradia e paz, justiça e liberdade!"
Esse apelo faz reviver um fato evangélico, simples e profundamente significativo. Aconteceu no pequeno mas perigoso mar da Galiléia, há quase dois mil anos.
As águas estão calmas. De repetne, nuvens carregadas escurecem o céu. Num barco, os pescaores se apavoram com as ondas que se erguem furiosas, sobre o vento que sopra violento. Na proa, um deles dorme tranquilo. É Jesus de Nazaré. Com os gritos, ele acorda, ergue-se, e também grita, mas ao vento e ao mar: "Calma!" Imediatamente o sol brilha de novo, as ondas se tornam espelho, e o barco chega à margem. Então ele diz: "Deixem tudo. Venham comigo. A pescaria daqui para a frente será bem outra. Há muita gente esperando por nós. Também os campos de trigo estão maduros para a colheita. O mar está cheio de peixes. E os que querem trabalhar são poucos" (cf. Mt 4,18-22).
Mais tarde, muitas caminhadas e travessias já feitas, ele dizia aos que tiveram a generosidade e coragem para o seguir: "Não foram vocês que me escolheram. Fui eu que chamei vocês para irem pelo mundo plantar, colher e pescar. E os frutos e peixes não se estragarão. Assim todos vão acreditar quem eu esou. E crendo poderão ter vida sempre melhor".
Assim falou "aquele que ensina". Quando estava para morrer, ele ainda repetia na última ceia, o que muitas vezes havia lembrado. "Eu que sou o Mestre e Senhor, eu vim para dar a minha vida como garantia de libertação para todos. Eu vim para servir. Então vocês, também precisam estar sempre a serviço uns dos outros, até mesmo para dar a vida, se for necessário" (Jo 13,14).
Aliás, servir não diminui ninguém. Só faz exaltar, quando alguém sente a alegria de colocar a própria vida em favor dos amigos. Afinal, ele continuou: "Todos vocês são irmãos. E eu lhes digo mais: vocês são meus amigos, porque estão me acompanhando também nas tempestades e tribulações. E vocês sabem que não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos" (Mt 23,8).
Conhecendo os vários serviços ou ministérios que se podem prestar ao povo, e sabendo que o serviço é um gesto de amor aos amigos, cada cristão escolherá livremente a sua maneira de servir. Saberá assim responder e corresponder fielmente ao chamado de Deus. Chamado que também se diz VOCAÇÃO.
Vocação para servir. Para um "ministério". Como lembram os bispos do Brasil: "Quem foi escolhido ou chamado, recebe um encargo ou missão" (Catequese renovada, 66).
Surge imeiata a interrogação de toda criança e adolescente ou jovem: "O que serei amanhã?"
Aos poucos, o questionamento vai crescendo: Fui chamado para fazer o quê? Onde? Com quem? De que modo? Com que meios?
Qual o rumo que Jesus de Nazaré me aponta? Ele me atrai de maneira irresistível. E eu, que serviço poderei prestar aos meus irmãos, aos meus amigos? e também aos inimigos, para que se tornem amigos e irmãos?
O mundo precisa mudar. E eu vou ajudá-lo a cantar a sinfonia da nova humanidade: vozes unidas na fé em Deus na esperança de viver vida de gente, no amor que reconstrói o Reino de Deus entre os homens, tornandos novamente irmãos.
pe. José Dias Goulart - extraído do livro: Os caminhos da vocação para servir ed. Paulus
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