Nos dias 16 a 21 de agosto, será realizada em Madrid mais uma Jornada Mundial da Juventude. Promovida pelo Pontifício Conselho para os Leigos e pelas Conferências Episcopais e dioceses dos países escolhidos para sediar a Jornada, ela acontece a cada 2 ou 3 anos. Em 2008, foi em Sidney, na Austrália.
Madrid será tomada por uma grande multidão de jovens oriundos de todo o mundo; ali também chegará o Papa Bento XVI, no dia 18 de agosto. Mais de 16 mil jovens do Brasil já estão de malas prontas para viajar para a Espanha; levam no coração a esperança de que o Papa anuncie, no final do encontro, o Brasil como país sede da próxima Jornada. A Conferência dos Bispos do Brasil manifestou este desejo ao Papa.
Foi João Paulo II que teve a iniciativa das Jornadas Mundiais da Juventude, com o objetivo de estabelecer uma nova interação da Igreja Católica com a juventude; isso tem se mostrado eficaz pois, além dos jovens participantes nesses encontros, muitos outros são envolvidos por iniciativas promovidas nos respectivos países, antes, durante e depois das Jornadas. A mensagem passada em cada Jornada acaba alcançando um número incalculável de jovens.
Nos próximos dias, Madrid será a “capital mundial da juventude”! Vindos de cerca de 170 países, dos mais variados povos, culturas, raças e línguas, os jovens confraternizarão, partilharão experiências e alegrias, contando suas histórias e expressando a riqueza cultural e religiosa de seus povos.
No programa, terão celebrações religiosas e reflexões sobre o significado da fé cristã para o convívio social e para a edificação de seu futuro; mas também haverá muita manifestação cultural e oferta de oportunidades para descortinar horizontes novos na vida e para perceber o mundo a partir do horizonte que outros jovens têm. Será uma verdadeira experiência de globalização a partir de valores compartilhados, onde as diferenças não dividem nem distanciam, mas somam e ajudam a compreender que, no fundo, as buscas mais imperiosas, os desejos mais ardentes e os valores mais genuínos de cada um são os mesmos de outros jovens também, em todo o mundo.
Em Madrid, será facilmente perceptível que a humanidade é, de fato, uma única grande família, com laços comuns, na qual todos são chamados a se irmanar, respeitar e conviver em paz, ajudando-se reciprocamente na edificação de um mundo bom para todos. A ocasião é oportuna para uma reflexão sobre o que é oferecido hoje às novas gerações, em vista do seu futuro; afinal, é sobre elas que os adultos precisam investir, pensando no amanhã da sociedade e da humanidade.
Impressiona-me, por vezes, encontrar jovens sem projeto para a vida, que rejeitam a idéia de casar, constituir família, ter filhos... Impressiona-me ainda mais ver tantos jovens entregues ao consumo de drogas que matam, ou envolvidos em organizações à margem da lei e da sociedade, bem conscientes de que sua vida está sempre por um fio!
E quantas vidas em flor são queimadas, como “arquivos” incômodos ou inúteis, depois de terem sido usados inescrupulosamente?! A “mortalidade juvenil” é impressionante! Alguém observou que os recentes tumultos de Londres mostrariam a “frustração nihilista de jovens urbanos” (O Estado de São Paulo, 10.08, A14).
Vemos jovens sem perspectivas de futuro, movendo-se na vida em terrenos movediços, sem convicções nem bases para edificar a existência, para os quais o horizonte se fecha por inteiro sobre o instante fugaz de um gozo passageiro! Lembramos ainda de Amy Winehouse? É culpa dos jovens? Seria muito cômodo apenas criticar os jovens.
É preciso indagar sobre aquilo que lhes é oferecido na educação e na cultura que consomem todos os dias. Em quais fontes bebem para matar sua sede? As bases para os jovens edificarem suas vidas não são postas por eles, mas pela geração adulta e pelo ambiente em que vivem. Como os jovens são preparados para assumirem seu lugar na sociedade, no mundo do trabalho e das responsabilidades sociais? Dados do Centro de Atendimento ao Trabalhador (CEAT) mostram que de cada 4 empregos disponíveis, apenas um é efetivamente ocupado: os candidatos que se apresentam não estão preparados para assumir o posto em oferta! E é jovem a maioria dos candidatos! Sem dúvida, é preocupante. Boa parte deles pode estar perdendo o bonde da história. Olhemos ainda para um outro aspecto da realidade, que interessa aos jovens. Certezas duradouras estão fora de moda! Vivemos tempos de superficialidade, de coisas descartáveis, de modismos passageiros e novidades “vantajosas”, que suplantam a toda hora as convicções. As coisas valem na medida em que são consumíveis, de acordo com o apetite que podem despertar e satisfazer. O consumismo tomou conta também da cultura e dos comportamentos e se aplica ao próprio ser humano; e tende a invadir o campo das certezas morais e da religião. O subjetivismo e o relativismo produziram uma profunda crise de valores e de referenciais para os jovens. A norma é o politicamente correto, mesmo que esteja desprovido de verdade e de valores!
“Ah, esses moços, pobres moços!” Os jovens, por natureza, estão projetados para o futuro e têm o direito de sonhar com um mundo melhor, com perspectivas consistentes. Alimentar a sua esperança é tarefa da geração dos adultos, de toda a sociedade. As Jornadas da Juventude querem ser uma contribuição para isso, apontando para os jovens as bases sólidas do Evangelho de Cristo, para que possam edificar sobre elas seu futuro e se enraizar profundamente nos princípios que o Cristianismo: o respeito profundo pela dignidade de cada pessoa, a colaboração e a partilha, a fraternidade, a justiça e a paz. A Jornada de Madrid será uma amostra disso.
Card. Odilo P. Scherer - Arcebispo de São Paulo
Fonte: O SÃO PAULO, 03.08.2011
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