A impressão, que por vezes, se tem é que padre diocesano é padre de segunda categoria, ao passo que o religioso padre, esse, sim, é o autêntico e é de primeira categoria. Ora, não existe padre de primeira e segunda categoria. Se quiséssemos ser bem exatos, diríamos até que o autêntico padre é o diocesano, ao passo que o religioso padre é, em primeiro lugar, religioso, e só num segundo tempo ele é padre. É um padre que nasceu na história para suprir o padre diocesano que tinha perdido o seu rumo ou tornou-se deficiente. Já não é mais o caso hoje. O Vaticano II, na Cristus Dominus 28, até dirá que, na cura das almas, os primeiros são os sacerdotes diocesanos, porque eles, estando incardinados ou dedicados numa Igreja particular, consagram-se inteiramente ao serviço dela, a fim de pastorearem uma parte do rebanho do Senhor.
No Vaticano II só se fala do padre diocesano. Nenhuma vez aparece a expressão padre secular. Padre diocesano é o padre incardinado em uma Igreja particular, em uma Diocese, consagrado totalmente a ela, posto ao serviço dela, para pastoreá-la, em íntima união com o bispo e os demais membros do Presbitério. Bispo e presbitério formam profunda unidade.
A incardinação é a expressão do vínculo jurídico, teológico, espiritual, esponsal, pastoral, do padre com a Igreja particular, com a Diocese. A incardinação traz consigo uma total consagração à Igreja particular ou Diocese, para servi-la em união com o bispo e os demais integrantes do Presbitério. Isto supõe a consciência da própria Diocese ou Igreja particular, o conhecimento de sua realidade geográfica e cultural, as riquezas e carências no campo social, econômico, político, religioso, a sua história vivida por seus bispos, padres, diáconos, religiosos(as), consagrados(as), fiéis cristãos leigos, e um grande amor por esta porção do Povo de Deus. Isto supõe sentir-se chamado, vocacionado por Deus, aqui e agora, nas atuais circunstâncias históricas desta Igreja particular, desta Diocese, para aí ser pastor. Estamos dentro de uma comunidade, a comunidade diocesana, que deve ser sentida como a nossa comunidade.
O conhecimento da história da Igreja particular ou da Diocese, da vida e da realidade (história passada e presente) deve ser, para o padre diocesano, motivação constante, a fim de crescer na vida de oração, sentir-se estimulado a buscar, mas e mais, o seu próprio aprofundamento dentro das exigências evangelizadoras e pastorais da Igreja particular ou Diocese, e se doar, sempre mais, para Jesus seja conhecido, amado e seguido por esta porção do Povo de Deus que, em união com o bispo diocesano e os demais membros do Presbitério, lhe foi confiado.
D. Aloísio Lorscheider
Extraído do livro "Identidade e espiritualidade do padre diocesano"
Nenhum comentário:
Postar um comentário