Dom Tomás Balduino nasceu em Posse (GO), em 31 de dezembro
de 1922. Cursou Filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França,
onde concluiu o Mestrado. Em 1957, foi nomeado superior da missão dominicana da
Prelazia de Conceição do Araguaia, no Pará. Em 1965, concluiu o Mestrado em
Antropologia e Linguística na Universidade de Brasília (UNB). No mesmo ano, foi
nomeado administrador apostólico da Prelazia de Conceição do Araguaia. De 1967
a 1999, foi bispo da Diocese de Goiás. Em 1972, participou da criação do
Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do qual foi presidente de 1975 a 1979.
Em 1975, participou também da criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que
presidiu de 1997 a 2003 e da qual, desde 2005, é conselheiro permanente. Dom
Tomás é ainda doutor honoris
causa da Pontifícia
Universidade Católica (PUC) de Goiás e da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Entre as muitas qualidades de Dom
Tomás, que -em "seus 90 anos de Romaria” (no dizer de Dom Pedro
Casaldáliga)- poderiam ser destacadas, recordo quatro: sua profunda
sensibilidade humana; sua extraordinária perspicácia na escuta dos sinais dos
tempos; sua prática radicalmente profética e sua fé inabalável na utopia do
Reino de Deus, que é a Boa-Notícia de Jesus de Nazaré.
Estas qualidades marcam a história
de vida de Dom Tomás, nos edificam a todos/as e nos animam a continuar a luta
por "uma outra Igreja possível” e por "um outro mundo possível”.
Dom Tomás -mesmo não tendo
participado do Concílio Ecumênico Vaticano II- foi pioneiro na aplicação e na
vivência de seus ensinamentos, que desencadearam, no mundo inteiro, um
movimento de volta às fontes e de profunda renovação da Igreja. No corrente
ano, fazemos a memória dos 50 anos da abertura do Vaticano II.
A Igreja conciliar, pela qual Dom
Tomás deu e continua dando sua vida, é uma Igreja igualitária, de irmãos e
irmãs, comunitária (Igreja-comunidade, Igreja-comunhão); é uma Igreja Povo de
Deus e toda ministerial.
"Existem dons diferentes, mas
o Espírito é o mesmo; diferentes serviços (ministérios), mas o Senhor é o
mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.
Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para o bem de todos” (1Cor 12,
4-7).
A Igreja do Concílio Ecumênico
Vaticano II é também uma Igreja que busca sempre o consenso, reconhecendo e
valorizando o "senso da fé” do povo cristão; é uma Igreja que, a todo
momento, perscruta os sinais dos tempos, interpretando-os à luz do Evangelho; é
uma Igreja pobre, que faz a Opção pelos Pobres (a "Igreja dos Pobres”); é
uma Igreja que reconhece e valoriza o diferente (uma Igreja ecumênica e
macroecumênica); enfim, é uma Igreja que se alia aos Movimentos e Organizações
Sociais Populares e a todos aqueles e aquelas que lutam por um Mundo Novo, de
justiça e irmandade, que -à luz da fé- é a utopia do Reino de Deus, acontecendo
na história humana e cósmica.
Dom Aloísio Lorscheider -numa síntese
muito bem formulada- oferece-nos uma fotografia nítida da Igreja conciliar.
"O Vaticano II - diz ele - faz-nos passar de uma Igreja-instituição ou de
uma Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a
serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada,
peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora,
ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e
sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão,
de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja-missão, uma Igreja toda
ela missionária” (Texto citado por Dom Geraldo Majella Agnelo na contracapa da
Liturgia Diária, novembro de 2012).
Em 1968, a Segunda Conferência Geral do Episcopado
Latinoamericano de Medellín, na Colômbia, fêzuma
releitura do Concílio Ecumênico Vaticano II, aplicando-o à nossa realidade. No
Brasil, uma das expressões (talvez a mais significativa) do modelo de Igreja do
Vaticano II, à luz da Conferência de Medellín, são certamente as Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs).
Termino esta breve memória da vida
de Dom Tomás e do modelo de Igreja conciliar - com o qual ele se identificou e
sempre esteve (e ainda está) comprometido em sua prática pastoral - com as
palavras de Dom Pedro Casaldáliga: "São 90 anos, muitos dias, muitos
caminhos, com falhas humanas, reconhecidas por ele, mas buscando sempre o
espaço do Reino, o apelo do Povo, um possível gesto de solidariedade e de
profecia. Ele tem uma personalidade inclaudicável. Em continuidade
perseverante, com a letra miúda e o traço teimoso aprendido já na família e por
esses sertões e veredas da libertação” (Pedro Casaldáliga, Bispo pé no chão e
universal. Em: Ivo Poletto (org.). Solidário mestre da vida. Celebrando os 90
anos de Dom Tomás Balduino. Paulinas, São Paulo, 2012, p. 17. Leia o livro!
Vale a pena!).
Fr. Marcos Sassatelli, Frade Dominicano.
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