Elias recebe a ordem: "Saia e fique no alto da montanha, diante de Javé, pois Javé vai passar!" (1Rs 19,11). Elias sai da gruta e prepara para o encontro com Deus. Momento solene! No passado, naquela mesma montanha, Deus manifestara a sua presença no furacão, no terremoto e no fogo (cf. Ex 19,16). Tais sinais tradicionais da presença de Deus eram os critérios que orientavam Elias na sua busca. Mas acontece o inesperado: Deus já não está no furacão, nem no terremoto, nem mesmo no fogo que, poucos antes, lá no monte Carmelo, havia sido o grande sinal da presença divina a queimar o sacrifício diante de todos o povo (1Rs 18,38). Parece até um refrão que chama a atenção: "Javé não estava no furacão!" - "Javé não estava no terremoto!" - "Javé não estava no fogo!" (1Rs 19,1-12). Os sinais tradicionais da presença de Deus eram lâmpadas apagadas. Bonitas para ver, mas sem luz! Deixaram Elias no escuro! Elias vivia no passado! Deus já não era como ele, Elias, e tantos outros no cativeiro imaginavam e desejavam. Como diz o salmo: "Acaso Deus vai se esquecer de agir com clemência, ou na sua ira fechou o coração? E concluo: 'Meu sofrimento é este: está mudada a mão direita do Altíssimo'" (Sl 77,10-11). Elias não se dá conta das mudanças que houve e, de certo modo, vive no passado.
É a desintegração do mundo de Elias: espelho da desintegração da vida do povo no cativeiro depois que Nabucodonosor mandara destruir os sinais tradicionais da presença de Deus: o templo, o rei, a posse da terra. Caiu tudo! A imagem que Elias (o povo do cativeiro) tinha de Deus quebrou em mil pedaços. É o silêncio de Deus! Na língua hebraica, este silêncio é expresso com as seguintes palavras: "voz de calmaria suave". As traduções costumam dizer: "murmúrio de uma brisa suave". Mas a palavra hebraica usada para indicar a calmaria vem da raiz DMH, que significa parar, ficar imóvel, emudecer. O "murmúrio de uma brisa suave", que veio depois do furacão, depois do terremoto e depois do fogo, indica uma experiência, que, como um golpe suave e inesperado, faz a pessoa ficar calada, cria nela um vazio e, assim, se dispõe para escutar. É puxão de orelha, tapa na cara! Mesmo dado com suavidade, não deixa de ser tapa! Tapa que desperta, quebra a ilusão irreal e faz a pessoa colocar o pé no chão. Na realidade, a brisa suave, o tapa na cara, era o próprio exílio, que tinha destruído tudo e obrigava o povo a uma conversão radical.
A resposta final de Elias
Elias cobre o rosto com o manto (cf. 1Rs 19,13). Sinal de que tinha descoberto a presença do apelo de Deus naquilo que parecia ser a ausência! Despertou! Aprendeu a lição! "Caiu a ficha!" A situação de derrota, de morte e de secularização em que se encontrava o povo no cativeiro é percebida por ele como sendo o momento e o lugar onde Deus o atinge. A escuridão iluminou-se por dentro e a noite ficou mais clara que o dia (Sl 138,12). Deus se fez presente na ausência para além de todas as representações e imagens! Escuridão luminosa! Não é a luz no fim do túnel, mas sim a luz que já existia na escuridão do próprio túnel e que Elias não enxergava. É uma luz diferente.
A experiência de Deus na brisa leve dá olhos novos e produz uma mudança radical. Elias descobre que não é ele, Elias que defende a Deus, mas é Deus quem defende a Elias. É a sua conversão e libertação! Reencontrando-se com Deus, encontrou-se consigo mesmo e com a sua missão. Descobriu sua conversão lá, onde pensava que Deus não tivesse nada a dizer-lhe! Imediatamente, ele parte para cumprir as ordens de Deus. Uma delas é ungir Eliseu como profeta em seu lugar (1Rs 19,16). Renasce a profecia! A luta pela justiça renasce da experiência da gratuidade.
Autoria: Carlos Mesters - Vai! Eu estou contigo! Paulinas, p. 36-38
Nenhum comentário:
Postar um comentário