quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Zangada com Deus

Adriana estava furiosa com Deus. Aliás, chegou mesmo a dizer que nunca mais iria querer nada com ele. Se Deus existisse, que ficasse lá no canto dele, cuidando das suas coisas prediletas, porque, da parte dela, se arranjaria sem ele...
A mãe a mandou calar a boa. O pai lhe deu um abraço mais forte, e uma amiga chorou com ela, sem saber o que dizer. Mas ela continuou desabafando contra Deus.
"Ele não é bom coisa nenhuma. Pai algum faria isso que ele fez comigo. Vocês padres mentem, quando dizem que é amigo. Comigo ele não foi. Levou meu namorado de maneira cruel, esfaqueado por cinco marginais, só porque ele não tinha dinheiro e reagiu quando quiseram tocar em mim. Por que Deus deixa isso acontecer? Eu aceito a morte, mas não a morte estúpida. por que os assassinos merecem viver e ele está morto? Por que Deus leva um menino bom e deixa livres e vivos os assassinos? Eu queria ter morrido com ele. SEria bem melhor. Não gosto de Deus não creio mais nele e naõ aceito  nada dele. Estou com raiva de Deus. É isso ai. Pode dizer na tua conversinha ao pé da orelha dele, que aqui na terra tem uma menina que não gosta nem um pouco dele se é que ele existe".
Era a raiva de Adriana, furiosa com Deus por haver perdido seu namorado num assalto.
Preferi não dizer nada em defesa de Deus. Deus não precisa de defensores nesta hora. Olhei para ela, puxei-lhe a orelha e o nariz e disse que, realmente, eu não tinha resposta. Eu não sabia porque aquilo acontecera e, se eu  tivesse explicação para suas perguntas, eu seria Deus.
Falei da vida e da morte como as entendo. Não arranjei nenhuma explicação. Confessei-me perplexo, como ela. Apenas disse que, se Deus é pai, então compreenderá a raiva de uma noivinha que perde seu noivo num ato de violência estúpida: "Você não perdeu a fé, disse eu. Apenas perdeu a paz. Seu comportamento é como o de uma criança  que se sente injustiçada punida e não quer mais olhar para a mãe. Mas, quando a dor doer menos, ou, de tanto chorar, você tiver mais calma, então conversará com Deus, perguntando diretamente a ele sobre o porquê. E não receberá resposta. Deus não está zangado com você por estar furiosa com ele. Se ele ama, sabe que tudo isso é fruto do seu amor pelo Tota",
pe. Zezinho

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