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Talvez seja esta, para mim, a última romaria pé no chão. A outra eu estaria contando estrelas no seio do Pai. E mesmo sendo a última ou a penúltima, quero dar uns conselhos - velho caduco tem direito a dar conselhos - e, à memória dos mártires no sangue dos mártires, mais que um conselho, um compromisso, depois juntamente assumidos ou reassumidos.
São Paulo, depois de tantos dons, nos anuncia tantas brigas teológicas, tantas intrigas por cultura, dá um conselho único: é o que eu peço de vocês: que não esqueçam a opção pelos pobres, essencial ao evangelho e a Igreja de Jesus. A opção pelos pobres.
A opção pelos pobres se concretiza nos povos indígenas, no povo negro, na mulher marginalizada, nos sem terra, nos prisioneiros, nos muitos filhos e filhas de Deus, proibidos de viverem com dignidade e com liberdade. Eu peço também para vocês que não esqueçam do sangue dos mártires. Tem gente da própria Igreja que acha que chega de falar de mártires. No dia que chegasse de falar de mártires deveríamos apagar o novo testamento e fechar o rosto de Jesus.
Assumam a Romaria dos Mártires, multipliquem a Romaria dos Mártires, sempre, recordamos, assumindo as causas dos mártires, pelas quais morreram. Nós vamos dedicar, vamos doar e, se for preciso, morrer a nossa própria vida, também.
Tenho ainda uma palavra: há muita amargura, há muita decepção, há muito cansaço, há muita radicação: isso é heresia, isso é pecado. Nós somos o povo da esperança, o povo da Páscoa. O outro mundo possível somos nós. Devemos fazer questão de vivermos todos cutucando, agitando, comprometendo, como se cada um de nós fosse uma célula mãe, espalhando vida, provocando vida.
A Igreja da Libertação está viva, ressuscitada, porque é a Igreja de Jesus. A Teologia da Libertação, a Espiritualidade da Libertação, a Liturgia da Libertação, a vida eclesial da libertação não é nada de fora, algo bem direto, é do próprio mistério pascal, que é o mistério da vida de Jesus, que é o mistério de nossas vidas. Para todos vocês, todas vocês, um abraço imenso com muito carinho, com muita ternura e com muita esperança de se manter viva a esperança, que seja uma razão. Podem nos tirar tudo, menos a fiel esperança.
Um grande abraço para vocês, para suas comunidades, que a caminhada continue. Amém, Axé, Awere, Sawede, Aleluia.
D. Pedro CasaldágliaFonte: Revista Redemoinho setembro 2011
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