A 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos
Bispos foi iniciada, ontem, dia 5, com a missa celebrada na Basílica de São
Pedro, no Vaticano. Na ocasião, o papa Francisco comentou a liturgia do dia,
que recorda a imagem da vinha do Senhor, “projeto de Deus para a humanidade”.
Ao relacionar com o acontecimento do Sínodo, o pontífice afirmou que os
participantes são “chamados a trabalhar na vinha do Senhor”.
De acordo com Francisco, as assembleias
sinodais não servem para “para discutir ideias bonitas e originais, nem para
ver quem é mais inteligente”, por outro lado tem a função de “cultivar e
guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de
amor a respeito do seu povo”. O cuidado com a família, considerada parte
integrante do desígnio de amor para a humanidade, será debatido no
encontro a partir do tema “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da
evangelização”.
Em sua homilia, o papa afirmou que “o sonho do
Senhor é o seu povo” e que, assim como as videiras, Ele plantou e cultivou com
amor paciente e fiel “para se tornar um povo santo, um povo que produza muitos
e bons frutos de justiça”. A vinha inculta e com frutos selvagens encontra sua
causa na “ganância de poder e de dinheiro” dos agricultores.
Para Francisco, os vinhateiros “arruínam o projeto
do Senhor pois não trabalham para Ele, mas só para os seus interesses,
carregando sobre os ombros do povo pesos insuportáveis. Quando, na verdade, a
tarefa dos líderes do povo é cultivar a vinha com liberdade, criatividade e
diligência”.
A formação de um povo santo que pertença a Deus e
produza bons frutos é, segundo Francisco, o desejo do Senhor, e os 191 padres
sinodais, que até o dia 19 de outubro discutirão sobre a família, devem ter
seus pensamentos e projetos apontados para esta indicação. “Para cultivar e
guardar bem a vinha, é preciso que os nossos corações e as nossas mentes sejam
guardados em Cristo Jesus pela ‘paz de Deus que ultrapassa toda a
inteligência’, como diz São Paulo”, lembrou o bispo de Roma.
Clareza
Hoje, dia 6, as atividades tiveram início às 9h, com
debate sobre “matrimônio e família”. Num breve discurso de introdução, o papa
Francisco deu orientações aos padres sinodais sobre seus posicionamentos.
“Falar claro é condição básica”, exortou. “Que ninguém diga ‘isso não se pode
dizer, fulano pensará isso ou aquilo de mim’. É preciso dizer tudo o que se
sente, a verdade sem temores”, afirmou.
Francisco contou que, em fevereiro, durante o último
consistório, um cardeal escreveu para ele lamentando que nem todos os presentes
tiveram coragem de dizer algumas coisas “por respeito ao papa, pensando que ele
pensasse de forma diferente”.
“Isto não é certo, não é sinodalidade, porque os
padres sinodais devem dizer tudo o que, no Senhor, sentem que têm que dizer,
sem pavor. Ao mesmo, deve-se escutar com humildade e acolher, de coração
aberto, o que dizem os irmãos. Com estas duas atitudes, se exerce a
sinodalidade”, explicou o papa.
Em entrevista à Rádio Vaticano, o arcebispo de São
Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer, reiterou o desejo de conhecer as
realidades enfrentadas pela família no mundo todo. “O sínodo é convocado para
que faça aparecer a voz e o pensamento da Igreja, ou seja, das igrejas nos
diversos lugares, como nas dioceses, as conferências episcopais que os bispos
representam. Sobretudo, o papa quer ouvir para depois ter uma palavra da Igreja
a respeito desse assunto”, explicou dom Odilo.
O arcebispo de Budapeste, na Hungria, e
presidente-delegado do Sínodo, cardeal Peter Erdo, apresentou o relatio
ante disceptationem (relatório precedente ao debate). Ele recordou o papa
Paulo VI, quando afirmou que “a família não é só sujeito de evangelização, mas
sujeito primário no anúncio da Boa Nova de Cristo”. Diante disso, considera ser
necessária “a incessante compreensão e atualização do Evangelho da Família, e
os problemas familiares mais graves devem ser considerados como ‘sinal dos
tempos’”.
Divorciados recasados, preparação de sacerdotes para
trabalhar com aconselhamento de casais sobre a validez de sua união e
dificuldades sociais e culturais que pesam na vida matrimonial e familiar foram
elementos apresentados no relatório. O documento sugeriu “dar respostas reais e
impregnadas de caridade aos problemas que, especialmente hoje, tocam a
existência da Família”.
Fonte: CNBB