Somos muitos os que vivemos submetidos a um ritmo duro de
trabalho que nos vai desgastando ao longo dos meses. Por isso, ao chegar o
verão (férias), todos buscamos de uma maneira ou outra um tempo de descanso que
nos ajuda a liberarmos da tensão, do peso e do desgaste que temos acumulado ao
longo dos dias.
Mas, o que é descansar? É suficiente recuperar nossas
forças físicas, tomando o sol durante horas e mais horas junto a orla de
qualquer mar? Basta esquecer nossos problemas e conflitos submergindo no
ruído de nossas festas e festivais?
Ao retorno das
férias, mais de uma pessoa sente em seu interior a sensação de havê-las
perdido. E é também nas férias que podemos cair na tirania da agitação, do
ruído, da superficialidade e da ansiedade do desfrute fácil e exaustivo. Nem
todos sabem descansar. E quiçá o homem moderno necessita urgentemente
iniciar-se na arte do verdadeiro descanso.
Necessitamos, antes de mais nada, encontrarmos mais
profundamente conosco mesmo e buscar o silêncio, a calma e a serenidade que
tantas vezes nos falta durante o ano, para escutar o melhor que há dentro de
nós e ao nosso redor.
Necessitamos
lembrar que uma vida intensa não é uma vida agitada. Queremos ter tudo,
acumular e desfrutar tudo. E nos fazermos rodeados de mil coisas supérfluas e
inúteis que afogam nossa liberdade e espontaneidade.
Necessitamos
redescobrir a natureza, contemplar a vida que brota perto de nós, deter-nos
diante de coisas pequenas e das pessoas simples e boas. Experimentar que a
felicidade tem pouco que ver com a riqueza, os êxitos e o prazer fácil.
Necessitamos
lembrar que o sentido último da vida não se esgota no esforço, no trabalho e na
luta. Pelo contrário, nos revela com mais claridade a festa, o gozo
compartilhado, a amizade e a convivência fraterna.
Mas
necessitamos, ademais, enraizar nossa vida nesse Deus (amigo da vida), fonte do
verdadeiro e definitivo descanso. Pode descansar o coração do ser humano sem
encontrar-se com Deus?
Escutemos com fé as palavras de Jesus: (Vinde a mim todos
vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos
darei descanso).
TRÊS CHAMADAS DE JESUS
O evangelho de Mateus apresenta
três chamadas de Jesus que temos que escutar com atenção. Seus seguidores, podem
transformar o clima de desalento, cansaço e aborrecimento que as vezes se
respira em alguns setores de nossas comunidade.
“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados, e eu vos darei
descanso”. É a primeira chamada.
Está dirigida a todos os que vivem
sua religião como uma carga pesada. Não são poucos os cristãos que vivem
sobrecarregados por sua consciência. Não são grandes pecadores. Simplesmente,
foram educados para ter sempre presente seu pecado e não conhecem a alegria do
perdão continuo de Deus. Se encontrarem com Jesus, se sentirão aliviados.
Há também cristãos cansados de
viver sua religião como uma tradição gasta. Se, se encontrarem com Jesus,
aprenderão a viver ao gosto de Deus. Descobririam uma alegria interior que hoje
não conhecem. Seguiram Jesus, não por obrigação mas por atração.
“Tomai sobre vós o meu jugo”. É a
segunda chamada.
Jesus não subjuga ninguém. Ao
contrário, libera o melhor que há em nós, pois, nos propõe viver fazendo a vida
mais humana, digna e saudável. Não é fácil encontrar um modo mais apaixonante
de viver.
Jesus
libera dos medos e pressões; faz crescer nossa liberdade, não nossa servidão;
desperta em nos a confiança, nunca a tristeza; nos atraí para o amor, não faz
leis e preceitos. Convida-nos a viver fazendo o bem.
“Aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração, e
vós encontrareis descanso”. É a terceira
chamada.
Temos que
aprender de Jesus a viver como ele. Jesus não complica nossa vida. A faz mais
clara e mais simples, mais humilde e mais saudável. Oferece descanso. Não
propõe nunca a seus seguidores algo que ele não havia vivido. Convida-nos a
segui-lo pelo mesmo caminho que ele fez. Por isso pode entender nossas
dificuldades e nossos esforços, pode perdoar nossas torpezas e erros,
animando-nos sempre a levantar-nos.
Temos que centrar nossos esforços em promover um contato
mais vital com Jesus em tantos homens e mulheres necessitados de animo,
descanso e paz.
Me entristece
ver que é precisamente seu modo de entender e viver a religião que conduz não a
poucos, quase inevitavelmente, a não conhecer a experiência de confiar em
Jesus. Penso em tantas pessoas que, dentro e fora da Igreja, vivem “perdidos”,
sem saber a qual porta chamar. Que Jesus possa ser para eles a grande notícia.
Pagola
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