sábado, 5 de julho de 2014

14º Domingo do Tempo Comum - A ARTE DE DESCANSAR

Somos muitos os que vivemos submetidos a um ritmo duro de trabalho que nos vai desgastando ao longo dos meses. Por isso, ao chegar o verão (férias), todos buscamos de uma maneira ou outra um tempo de descanso que nos ajuda a liberarmos da tensão, do peso e do desgaste que temos acumulado ao longo dos dias.
Mas, o que é descansar? É suficiente recuperar nossas forças físicas, tomando o sol durante horas e mais horas junto a orla de qualquer mar?  Basta esquecer nossos problemas e conflitos submergindo no ruído de nossas festas e festivais?
Ao retorno das férias, mais de uma pessoa sente em seu interior a sensação de havê-las perdido. E é também nas férias que podemos cair na tirania da agitação, do ruído, da superficialidade e da ansiedade do desfrute fácil e exaustivo. Nem todos sabem descansar. E quiçá o homem moderno necessita urgentemente iniciar-se na arte do verdadeiro descanso.
Necessitamos, antes de mais nada, encontrarmos mais profundamente conosco mesmo e buscar o silêncio, a calma e a serenidade que tantas vezes nos falta durante o ano, para escutar o melhor que há dentro de nós e ao nosso redor.
Necessitamos lembrar que uma vida intensa não é uma vida agitada. Queremos ter tudo, acumular e desfrutar tudo. E nos fazermos rodeados de mil coisas supérfluas e inúteis que afogam nossa liberdade e espontaneidade.
Necessitamos redescobrir a natureza, contemplar a vida que brota perto de nós, deter-nos diante de coisas pequenas e das pessoas simples e boas. Experimentar que a felicidade tem pouco que ver com a riqueza, os êxitos e o prazer fácil.
Necessitamos lembrar que o sentido último da vida não se esgota no esforço, no trabalho e na luta. Pelo contrário, nos revela com mais claridade a festa, o gozo compartilhado, a amizade e a convivência fraterna.
Mas necessitamos, ademais, enraizar nossa vida nesse Deus (amigo da vida), fonte do verdadeiro e definitivo descanso. Pode descansar o coração do ser humano sem encontrar-se com Deus?
Escutemos com fé as palavras de Jesus: (Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso).

TRÊS CHAMADAS DE JESUS
O evangelho de Mateus apresenta três chamadas de Jesus que temos que escutar com atenção. Seus seguidores, podem transformar o clima de desalento, cansaço e aborrecimento que as vezes se respira em alguns setores de nossas comunidade.
Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados, e eu vos darei descanso”. É a primeira chamada.
Está dirigida a todos os que vivem sua religião como uma carga pesada. Não são poucos os cristãos que vivem sobrecarregados por sua consciência. Não são grandes pecadores. Simplesmente, foram educados para ter sempre presente seu pecado e não conhecem a alegria do perdão continuo de Deus. Se encontrarem com Jesus, se sentirão aliviados.
Há também cristãos cansados de viver sua religião como uma tradição gasta. Se, se encontrarem com Jesus, aprenderão a viver ao gosto de Deus. Descobririam uma alegria interior que hoje não conhecem. Seguiram Jesus, não por obrigação mas por atração.
“Tomai sobre vós o meu jugo”. É a segunda chamada.
Jesus não subjuga ninguém. Ao contrário, libera o melhor que há em nós, pois, nos propõe viver fazendo a vida mais humana, digna e saudável. Não é fácil encontrar um modo mais apaixonante de viver.
Jesus libera dos medos e pressões; faz crescer nossa liberdade, não nossa servidão; desperta em nos a confiança, nunca a tristeza; nos atraí para o amor, não faz leis e preceitos. Convida-nos a viver fazendo o bem.
“Aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso”. É a terceira chamada.
Temos que aprender de Jesus a viver como ele. Jesus não complica nossa vida. A faz mais clara e mais simples, mais humilde e mais saudável. Oferece descanso. Não propõe nunca a seus seguidores algo que ele não havia vivido. Convida-nos a segui-lo pelo mesmo caminho que ele fez. Por isso pode entender nossas dificuldades e nossos esforços, pode perdoar nossas torpezas e erros, animando-nos sempre a levantar-nos.
Temos que centrar nossos esforços em promover um contato mais vital com Jesus em tantos homens e mulheres necessitados de animo, descanso e paz.
Me entristece ver que é precisamente seu modo de entender e viver a religião que conduz não a poucos, quase inevitavelmente, a não conhecer a experiência de confiar em Jesus. Penso em tantas pessoas que, dentro e fora da Igreja, vivem “perdidos”, sem saber a qual porta chamar. Que Jesus possa ser para eles a grande notícia.

Pagola

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