No caminho da vida não existem só flores
e nem só espinhos. Somos um misto de grandes alegrias e tristezas, fruto do
sucesso e do insucesso, de amigos e inimigos, de luzes e trevas, de ganhos e
perdas, que na somatória só fica o que somos capazes de assumir sem medo e com
fé.
O realismo da vida me leva a viver cada
momento com aquilo que é. Recordo uma frase do então papa João XXIII:
“Encontramo-nos na terra emprestados, mas não devemos perder o gosto de viver”.
É difícil compreender que a cada dia da vida o tempo não se repete e o que tempo
que temos é curto e passa rápido. Viver o provisório, com suas causas e coisas,
depende do grau de confiança que deposito e a prontidão em aceitar acertos e
desacertos.
Em um texto no blog do jornalista
Ronaldo Nezo eu li: “Um pensador certa feita disse: ‘Quando a alma chora, olho
da janela do meu quarto e do, alto do meu prédio, não vejo a beleza da cidade.
Vejo apenas a chance de silenciar meus tristes ais; de calar minhas lágrimas;
de penetrar e me perder no esquecimento. Caro amigo, estar no mundo é estar
sujeito aos prazeres e desprazeres da vida. Ainda que se apele para a razão,
nossas emoções muitas vezes falam mais alto. E se provocam sorrisos, não raras
vezes também nos fazem chorar. Quem deseja viver intensamente, terá dias em que
o sorriso vai brotar fácil em seus lábios; mas também deve aceitar que lágrimas
não desejadas vão descer pela sua face. Nessas horas, muitas vezes a vida perde
o sentido”.
Ninguém esta isento de problemas
financeiros, de perda de emprego, de traição amorosa, depressão, de frustração
nas escolhas feitas, sentimentos de que não valeu a pena o que fez ou deixou de
fazer, vontade de que tudo se acabe, que mundo não seja mundo e sim fim de
tudo. Nestas horas parece que deixar de viver é a única saída, afinal a vida
não nos pertence, é o maior presente de Deus.
Talvez o que está faltando de fato é um
espaço maior para que o Deus da vida seja a direção de tudo e não as coisas de
Deus que tomaram conta da vida. O coração humano não precisa de coisas, quantas
coisas sobrando e quantos mendigando um pouco de atenção, de amor e de afeto,
proporcionando um caminho novo de que vale apena viver.
Nestes momentos em que não vemos mais
por onde e como caminhar, resta-nos um olhar que vem do coração, de uma força
superior às nossas, um olhar com os olhos de Deus; e isso só é possível pela
fé. Uma fé que faz ver além das aparências, que faz brotar uma esperança viva
capaz de dissipar as trevas, e devolver a luz e contemplar a beleza de amar e
ser amados. As coisas passam, só amor permanece. O gosto de viver retorna
quando somos capazes de ver a vida como presente de Deus e que só Ele tem o
poder de tirá-la. Nada deste mundo pode dominar o direito de viver e viver com
dignidade. O vazio, a falta de sentido, o desgosto da vida desaparecerá, quando
somos capazes de orar e fazer da vida uma oração e não somente fazer uma oração
na vida. O gosto de viver será sempre vivo, quando as cruzes são pontes a
atravessar e as vitórias lições para toda a vida e os joelhos calejados de
tanto orar.
Por Dom Anuar Battisti – Arcebispo de
Maringá (PR)
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