quarta-feira, 27 de março de 2013

Fala-nos do Prazer


O prazer é uma canção de liberdade, mas não é a liberdade. 

É o florescer dos vossos desejos, mas não é o seu fruto. É uma profundeza que atinge uma altura. Mas não é o profundo nem o alto. É o que está na gaiola que alça seu vôo. Mas não é o espaço contido.
Sim, em verdade, o prazer é uma canção de liberdade. E como gostaria  que cantásseis com todo o vosso coração; mas não gostaria que perdêsseis vossos corações na canção.
Alguns de vossos jovens buscam o prazer como se ele fosse tudo, e são julgados e reprimidos. Eu não os julgaria ou reprimiria. Eu faria com que buscassem. Pois eles encontrarão o prazer, mas não apenas ele; sete são suas irmãs, e a mais insignificante é mais bonita que o prazer. Já não ouvistes falar do homem que escavava em busca de raízes e encontrou um tesouro?
E alguns de vossos anciãos lembram-se dos prazeres com arrependimentos, como se fossem erros cometidos durante a bebedeira. Mas arrepender-se é obscurecer a mente, e não toná-la casta.
Devem-se lembrar-se de seus prazeres com gratidão, como da colheira de um verão. Porém, se o arrependimento os conforta, deixai que sejam confortados.
E há aqueles entre vós que não são jovens para buscar, nem velhos para lembrar; e, em seu medo de buscar e de lembrar-se, evitam todos os prazeres, temendo negligenciar o espírito ou ofendê-lo.
Mas mesmo evitar é seu prazer.
E assim eles também encontram um tesouro, apesar de cavarem buscando raízes, com suas mãos tremulas. 
Mas falai-me, quem é aquele que pode ofender o espírito?
O rouxinol ofende o silêncio da noite, ou o vaga-lume, as estrelas?
E vossa chama ou vossa fumaça, sobrecarregam o vento?
Achais vós que o espírito é um lago parado que podeis perturbar com uma vara?
Muitas vezes, ao negar-vos prazer o que fazeis é guardar o desejo nos recessos do vosso ser.
Quem sabe se o que parece estar esquecido hoje espera pelo amanhã?
Mesmo vosso corpo conhece sua herança, e sua verdadeira necessidade e vontade não serão engandas.
E vossos corpos são a harpa de vossas almas. E está em vós fazer com que sua música seja doce ou que emita sons confusos.
E agora perguntais em vossos corações: "Como distinguiremos o que é bom no prazer do que não é bom?"
Ide aos vossos campos e aos vossos jardins, e aprendereis que é o prazer da abelha colher mel da flor.
Mas que também é o prazer da flor dar mel à abelha. Pois para a abelha, a flor é fonte da vida. E para a flor, a abelha é o mensageiro do amor.
E para ambas, abelha e flor, o dar e o receber do prazer são uma necessidade e um êxtase.
Autor: Khalil Gibran

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