Para Deus, criar é
chamar cada um de nós pelo nome, e o homem só é plenamente ele mesmo, só
descobre sua verdadeira identidade ao responder livremente a esse chamado. Um
dos maiores sofrimentos do ser humano é o de viver sem descobrir um sentido
para sua vida, é ter de se resignar ao absurdo da existência, é ter a impressão
de que é um sopro efêmero e inútil, que não serve para nada e que ninguém tem
necessidade dele. Encontrar sua “vocação” é encontrar a felicidade e a paz
interior.
Nós sabemos como a vida se torna
rapidamente insignificante se ninguém mais fala conosco. O que seria de uma
vida cristã, se Deus, através de sua Palavra, dos outros, ou por acontecimentos
nada me pedisse? Ou se Deus fosse
reduzido a um objeto de estudo, se a Boa Nova fosse apenas uma lei ou uma
prática cultural a observar no domingo?
Ao lermos os escritos da jovem
Igreja nascente, percebemos que os primeiros cristãos estão entusiasmados por
essa Boa Nova: Deus chama cada um pelo seu nome. Após Jesus Cristo, todos os
que creem são “os que são chamados, que são amados por Deus Pai” (Jd 1,1), os “santos
pelo chamado de Deus” (Rm 1,1 e 7). Mas
como ouvir esse chamado na cacofonia dos sons e das imagens do nosso mundo
interior moderno? Como escutar o
apelo de seu Espírito, esse fogo misterioso que desperta e que aquece nosso
coração via múltiplas mediações: aspirações íntimas, gritos dos homens e
mulheres, expectativas dos povos, necessidade da Igreja.
Desde o chamado de Abraão é ainda
esse diálogo de amor que prossegue. Assim, para melhor compreender nossa “história
santa”, começaremos por reler algumas passagens da Bíblia para descobrir que
Deus é um Amor que chama: um chamado do amor. Só
muito lentamente, em etapas sucessivas, é que o homem abriu-se à gratuidade do
Chamado de Deus. Através da aventura humana e espiritual do povo de Deus, e de
algumas grandes figuras bíblicas, vamos discernir os fundamentos e as
características de cada vocação e de cada missão. Compreenderemos como é grande
o desejo de Deus de fazer do homem um parceiro voltado para um futuro a ser
construído.
Esse apelo misterioso de Deus,
talvez já o tenhamos experimentado na prece e em nosso engajamento quotidiano.
Um chamado que convida à alegria, à felicidade eterna na luz do ressuscitado. E
veremos que, embora esse chamado de Deus possa às vezes surpreender, incomodar
e nos levar para uma aventura imprevista, ele sempre dá um sentido à nossa
existência.
Michel Hubat - Deus te chama pelo nome ed. Loyola
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