Para falar da
vocação da Igreja precisamos, em primeiro lugar, entender o que é Igreja e qual
é a sua missão. A Igreja é
mistério de comunhão trinitária. O supremo modelo e princípio deste mistério é
a unidade na Trindade das pessoas de um só Deus Pai e Filho no Espírito Santo.
O Vaticano II
apresenta a Igreja como "Povo de Deus", assembleia dos chamados, dos
convocados. A
ideia Povo de Deus recorda que a Igreja é uma realidade histórica, fruto da
livre iniciativa de Deus e da livre resposta dos seres humanos. Essa expressão
indica a Igreja em sua totalidade, ou seja, naquilo que é comum a todos os seus
membros. Pela graça do Batismo nos tornamos filhos e filhas de Deus, membros da
comunidade de fé- Igreja. O Batismo é, portanto, uma verdadeira vocação: a vocação
de ser cristão, Isto é, ser cristão é ser seguidor de Jesus Cristo. "Não há,
pois, em Cristo e na Igreja, nenhuma desigualdade em vista de raça ou nação,
condição social ou sexo (...) porque todos vós sois um em Cristo Jesus". (Gl
3,28). Faz parte desta condição comum - dado pela fé,
esperança e caridade e pelos sacramentos do Batismo, da Crisma e da
Eucaristia - a participação de todo o Povo de Deus nas funções profética,
sacerdotal e real de Cristo (cf. n° 71).
A noção de Povo
de Deus exprime então a profunda unidade, a comum dignidade e a fundamental
habilitação de todos os membros da Igreja à participação carismática e
ministerial. Esta é a condição cristã que é comum a todos os membros da Igreja. Um exemplo ajuda. Não basta ter um
carro, último modelo, com as funções mais sofisticadas, se suas peças não estão
colocadas no lugar certo, instaladas e ajustadas devidamente. Com certeza não
funcionará. Pode ser um simples fusível, uma válvula, um distribuidor elétrico,
um ejetor de combustível... cada peça é importante, imprescindível na sua
função. Nenhum deles pode substituir o outro. O carro é as peças no seu lugar.
Cada peça em seu lugar é o carro.
A Vocação
da Igreja acontece na medida que cada membro dela assume sua vocação na Igreja.
Cada vocação na Igreja transfigura o rosto vocacional da Igreja.
1. Ser COMUNIDADE (de comunhão e participação, corresponsável)
O Concilio fala
de uma Igreja-comunidade convocada pela Trindade, "povo reunido na unidade do Pai e do
Filho e do Espírito Santo" (LG 4). Somente esta visão de Igreja
contribui para que todos os seus membros vivam em estado de vocação e de
missão, sentindo-se escolhidos pelo Pai, chamados pelo Filho e enviados
pelo Espírito pata o serviço ao Reino.
Só uma Igreja
imagem da Trindade, "unidade dos
fiéis que constituem um só corpo em Cristo" (LG 3) na igual
dignidade e na variedade de funções (LG 32)
que abre espaço para a comunhão e participação, pode tornar-se o espaço
adequado para o surgimento e desenvolvimento das vocações e seu engajamento na
missão evangelizadora.
Os primeiros
cristãos entenderam muito bem o que Jesus queria da sua Igreja. No livro dos
Atos dos Apóstolos, vamos encontrar o primeiro retrato da Igreja: "Eram perseverantes em ouvir o
ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir o pão e nas orações.
Em todos eles
havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos
realizavam. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as
coisas, vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre
todos, conforme a necessidade de cada um, e cada dia o Senhor acrescentava à
comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação" (At 2, 42-47).
Uma Igreja que
queira animar sua Pastoral Vocacional deve colocar como meta constante a
intensificação da vida comunitária, da participação e da corresponsabilidade:
- na base
(grupos de reflexão e ação),
- nas estruturas
(conselhos, equipes de coordenação),
- na coordenação
(planos pastorais, prioridades)
2. Ser comunidade SERVIDORA (evangelizadora e missionária).
O fim primeiro e
fundamental da Igreja é servir, como Cristo. Por isso a Igreja comunidade
também é chamada de povo de servidores.
A principal
missão ou tarefa desse serviço é evangelizar. A Igreja existe para evangelizar,
essa é a sua missão, o seu serviço.
Foi o pedido de
Jesus antes de subir para o céu: "Ide
por todo o mundo e fazei todos os homens meus discípulos" (Mt 28,19).
São Paulo tinha consciência disto e dizia: "Ai de m/m se eu não anunciar o Evangelho" (1Cor 9,16).
Com a urgência
de uma nova evangelização, há a necessidade de despertar novos carismas e
ministérios para atingirmos o objetivo geral de ação evangelizadora da Igreja
no Brasil (2003-2006).
"EVANGELIZAR proclamando a Boa nova de Jesus Cristo, caminho para a
santidade, por meio do serviço, diálogo, anúncio e o testemunho de comunhão, à
luz da evangélica opção pelos pobres, promovendo a dignidade da pessoa,
renovando a comunidade, formando o povo de Deus e participando da construção de
uma sociedade justa e solidária, a caminho do Reino definitivo".
Evangelizar o
mundo é transformá-lo pelo amor, construir o reino de Deus, um reino de justiça,
de verdade, de paz, de amor: a força vocacional de uma Igreja particular está
na vivência entusiasmada de sua vocação evangelizadora. Só uma Igreja voltada
para a missão de evangelizar, vivida em todos os programas, equipes e trabalhos
pastorais, suscita a generosidade das vocações.
Existe uma
variedade enorme de carismas e ministérios a serviço da Igreja, presentes em
três tipos de vocações que chamamos de vocações específicas: vocações leigas,
vocação sacerdotal e vocação consagrada (religiosa) que teremos a oportunidade
de aprofundar nos próximos temas.
2.
Ser comunidade orante e "encarnada"
O diálogo da fé
não acontece sem um clima de oração. Falamos da evangelização como primeira
condição de uma pastoral vocacional e, essa imensa tarefa, assumida
pelas comunidades, grupos e organizações de Igreja, não será verdadeira sem
a vida em oração.
Uma Igreja
orante é uma Igreja em constante diálogo com Deus, condição para captar a
presença do Espírito de Deus na Igreja e no mundo. Aliás o próprio Jesus nos
mandou que rezássemos pedindo operários para a messe. "Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas
e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então Jesus disse aos seus
discípulos: A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos/ Por isso,
peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita."
(Mt 9, 36-38). Por isso, uma Igreja orante é ao mesmo tempo uma Igreja
encarnada, qque, sem reclamar privilégios, vive no mundo e na sociedade a
sua missão profética, denunciando as injustiças e anunciando a utopia
evangélica.
A Igreja, onde
as vocações podem brotar, é aquela que escuta o clamor do povo, que vive em
processo permanente de renovação e que reza pelas vocações.
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