Quando
Maria era jovem, menina nova e cheia de vida, ela recebeu uma mensagem
especial. Deus, através de seu anjo, convidou-a a assumir a missão de mãe e
educadora do Cristo. Depois de perguntar, questionar e buscar saber como isso
aconteceria, Maria respondeu com toda inteireza: “Eis aqui a servidora do
Senhor” (Lc 1,38). Ela não pensou em vantagens, em glórias, em ser famosa, e
sim no verdadeiro serviço. A palavra “serva” ou “servidora” tem muitos
sentidos. Algumas bíblias traduzem-na mal, usando o termo “escrava”. Na
realidade, o povo de Jesus não aceitava a escravidão. Os hebreus guardavam viva
na memória, e recordavam cada ano na festa da páscoa, que Deus havia libertado
seu po
vo da servidão do Egito, onde eles tinham sofrido muito, em condições
horríveis. Assim, até o preceito do sábado era para também lembrar que eles
eram um povo livre, pois o escravo não tem direito ao descanso. Até os
animais deveriam descansar no sábado (Dt 5,6.12-15). Ora, somente quem é livre
pode tomar decisões. Somente quem é dono de sua vida, e não está submetido aos
outros, pode fazer opções com inteireza. Servir por opção, não por pressão.
Assim aconteceu com Maria.
Logo
depois que diz “sim”, Maria sai apressadamente para visitar Isabel (Lc 1,39). Era
uma região montanhosa, difícil de chegar. Mas, quem está convencido que deve
servir, não reclama das dificuldades e arruma um jeito de superar os
obstáculos. Como Maria chegou até lá? Quem a acompanhou, pois as mulheres
naquele tempo não podiam andar sozinhas? Quanto tempo durou a viagem? A gente
não sabe. O que podemos dizer é que Maria e Isabel passaram algum tempo juntas.
E então viveram uma intensa experiência de comunidade. A gravidez de Isabel
começou três meses antes. Maria veio para servir sua parenta, mas ela também
estava grávida. Para as duas, era a primeira vez. Quantas esperanças, quantas
dúvidas, e alguns temores... Seguramente, Maria também aprendeu muita coisa com
Isabel, que já era uma mulher de idade avançada, com muita sabedoria.
Assim
acontece quando a gente se coloca a serviço dos outros. Aprendemos e ensinamos.
Doamos e recebemos. Esta é uma das belezas do serviço, quando ele é realizado
com liberdade, generosidade e desprendimento. Gratuitamente, sem pedir nem
exigir, há um retorno do amor. Pois o serviço traz junto a reciprocidade. Quem
recebe gestos de amor, com gratidão quer também fazer algo parecido. Para o
outro ou para os outros.
No
encontro com Isabel, Maria entoa um belo cântico de louvor a Deus. E agradece
ao Senhor que “olhou para sua humilde servidora” (Lc 1,48). Novamente, sai de
sua boca o que está no coração. Como Jesus, ela veio para servir a Deus e aos
outros!
A
partir de Maria, podemos traduzir de muitas formas a nossa resposta a Jesus,
como um serviço às pessoas, aos grupos, à transformação da sociedade. Dizemos
então: Jesus, eu também vim para servir! Venho para ajudar quem
precisa, venho para ensinar e aprender, venho para evangelizar, venho para
construir comunidade, venho para denunciar as injustiças, venho para animar os
tristes, venho para trazer uma palavra de esperança, venho para ouvir e
acolher, venho para louvar pelas maravilhas que o Senhor realiza no meio de
nós.
A
vida cristã é um constante movimento de ir e vir, como discípulo/a e
missionário/a de Jesus e de seu Reino. E Maria está conosco sempre, como
servidora, mãe, exemplo e companheira do caminho!
Afonso Murad - Publicado
na Revista de Aparecida
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