terça-feira, 12 de março de 2013

De onde te vem a existência?

“Considera de onde te vem a existência, a respiração, a inteligência, a sabedoria, e acima de tudo, o conhecimento de Deus, a esperança do reino dos céus e a contemplação da glória que, no tempo presente, é ainda imperfeita como num espelho e em enigma, mas que um dia haverá de Sr mais plena e mais pura. Considera de onde te vem a graça de seres filho de Deus, herdeiro com Cristo e, falando com mais ousadia, de teres também sido elevado à condição divina. De onde e de quem vem tudo isso?

Ou ainda – se quisermos falar de coisas menos importantes e que podemos ver com os nosso olhos – quem te concedeu a felicidade de contemplar a beleza do céu, o curso do sol, a órbita da lua, a multidão dos astros e aquela harmonia e ordem que se manifestam em tudo isso como uma lira afinada?
Quem te deu as chuvas, as lavouras, os alimentos, as artes, a morada as leis, a sociedade, a vida tranquila e civilizada, a amizade e a alegria da vida familiar? [...] Quem te constituiu senhor e rei de todas as coisas que há na face da terra? [...] Porventura não foi Deus? Pois bem, agora, o que ele te pede em compensação por tudo, e acima de tudo, não é o teu amor para com ele e para com o próximo? Sendo tantos e tão grandes os dons que recebemos ou esperamos dele, não nos envergonharemos de não lhe oferecer nem mesmo esta única retribuição que pede, isto é o amor? E se ele, embora sendo Deus e Senhor, não se envergonha de ser chamado nosso Pai, poderíamos nós fechar o coração aos nossos irmãos?
De modo algum, meus irmãos e amigos, de modo algum sejamos maus administradores dos bens que nos foram concedidos pela graça divina, a fim de não ouvirmos a repreensão de Pedro: “Envergonhai-vos, vós que vos apoderais do que não é vosso; imitai a justiça de Deus e assim ninguém será pobre”.
Não nos preocupemos em acumular e conservar riquezas, enquanto outros padecem necessidade, para não merecermos aquelas duras e ameaçadoras palavras do profeta Amós: “Tomai  cuidado, vós que andais dizendo: ‘Quando passará o mês para vendermos; e o sábado para abrirmos nossos celeiros?” (cf. Am 8,5)
Imitemos  aquela excelsa e primeira lei de Deus, que faz chover sobre os justos e os pecadores e faz o sol igualmente levantar-se para todos; [...] que põe tudo em comum, à disposição de todos eles, com abundância e generosidade, de modo que nada falte a ninguém. Assim procede Deus para com as suas criaturas, a fim de conceder a cada um os bens de que necessita segundo a sua natureza e dignidade, e manifestar a todos a riqueza da sua bondade”.
São Gregório de Nazianzo - século IV

sexta-feira, 8 de março de 2013

'Pobres ainda são esmagados pela injustiça', diz ex-assessora de Arns


Quando começou a trabalhar na Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, em 1972, Margarida Genevois falou para a família e amigos de casos de tortura e de desaparecidos da ditadura. Encontrou desinformação e desconfiança.
"Eu contava e ninguém acreditava, diziam que era imaginação. Até meu marido acreditava meio desconfiado", relembra às vésperas de fazer 90 anos: "Tomei conhecimento das coisas horríveis que se passavam nas prisões, das barbaridades. Mas a classe média é meio protegida das desgraças da sociedade."
Em seu apartamento em São Paulo, onde mora só, ela recorda que a comissão "era um dos poucos lugares que apoiavam os perseguidos. Eu recebia pessoas que estavam desesperadas, muitas tinham saído de prisões e estavam profundamente marcadas por aquilo tudo. É horrível perder um pai, um irmão que desapareceu feito fumaça no ar".
Da Cúria, as pessoas eram encaminhadas a advogados, médicos, psiquiatras: "Havia médicos que não atendiam. Mas alguns foram formidáveis, arriscaram a carreira. O tempo era duro, mas sempre tinha alguém que dava ajuda por debaixo do pano. Ou auxiliava a pessoa a deixar o país. Muitos não podiam ficar porque seriam mortos."

No início dos anos 1970, a ditadura mostrava sua face mais brutal. Foi quando d. Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo, organizou a Comissão de Justiça e Paz, que acolhia opositores do regime, denunciava torturas e buscava por desaparecidos.
Margarida trabalhou com Arns por 25 anos, presidindo a comissão por três vezes. "O bem que d. Paulo fez não é bastante reconhecido. Quem trabalha com ele cresce."
E como ela foi parar na Cúria? "Eu fazia parte da Ação Católica. Dom Paulo formou a comissão e só tinha homem. Mas, pelo estatuto, tinha que ter uma mulher", recorda.
Indicada, ela conta que o trabalho aumentou quando ditaduras se implantaram no Chile, Argentina e Uruguai. Cidadãos desses países pediam ajuda à comissão. "A Cúria ficava cheia de gente. Sabiam que d. Paulo acolhia. Precisávamos arranjar roupa, lugar para dormir, trabalho, apoio moral. Estavam em péssimo estado, muitos só com a roupa do corpo", relata.
Atuando como embaixadora da comissão, todo ano ia à Europa obter dinheiro para o trabalho junto a ONGs ligadas à igreja: "Eu ia à França, Alemanha, Holanda. D. Paulo era muito cotado por lá. Todo mundo sabia que ele era um cardeal aberto, progressista. Viajava com uma carta dele e era bem recebida".
O marido Lucien se preocupava: "Ele vivia com medo, dizia que eu iria ser presa. Mas me dava total liberdade. A maior parte das coisas que eu fazia ele nem sabia".
Lucien, francês, foi diretor da Rhodia. Eles se conheceram numa excursão de trem a Minas. Ficaram 35 anos juntos (ele morreu em 1986). Logo após o casamento (1944), foram morar em Campinas.
Lá a multinacional francesa montou uma usina de cana de açúcar. Em plena guerra, ela precisava de álcool que não podia ser transportado por navio do Nordeste por causa do perigo alemão.
Na fazenda moravam 2.500 pessoas. Margarida notou que a mortalidade infantil era alta: "Os colonos eram paupérrimos. O médico dizia: não tem doença, é fome. As mães não sabiam cuidar das crianças. Depois do parto colocavam teias de aranha ou excremento de vaca nos curativos. O tétano vinha em dias".
Para mudar essa situação, ela criou um curso de puericultura, uma pequena creche (os berços eram feitos com caixas de cebola pintadas de azul) e fez um jornal para as mulheres. Ensinou o que aprendera no curso de enfermeira de guerra: "Vi na fazenda que não adianta dar as coisas --tem que educar".
A iniciativa foi um sucesso, reduziu as mortes de crianças. É desse tempo de fazenda, em que viveu 22 anos, que Margarida tem uma das recordações mais emocionantes: "Chegou lá no posto de puericultura um rapaz com um recém-nascido moribundo, olhos fundos, sem respirar direito. Havia uma tempestade e estávamos completamente isolados, a estrada interditada. Nem se podia telefonar. Tratei o bebê do meu jeito, fiz tudo que sabia, dei injeção. No dia seguinte a criança não tinha morrido. Levei-a ao pediatra de minhas filhas e ele me disse: 'A senhora salvou essa criança'. Isso não tem preço. Foi um ponto alto na minha vida".
O marido se aposentou e a família (quatro filhos) veio para São Paulo. Foi quando entrou na Comissão de Justiça e Paz. Na sala, Margarida mostra fotos em passeatas, congressos, visitas ao Carandiru, Araguaia, Serra Pelada.
De uma família de notáveis advogados, Margarida Bulhões Pedreira Genevois nasceu no Rio em 10 de março de 1923: "Minha mãe achava que moça de família não devia ir para a faculdade". Na juventude fez biblioteconomia, estudou literatura francesa. Aos 45 anos foi aluna de Fernando Henrique Cardoso no curso de sociologia e política.
Quem mais sofre com a falta de direitos humanos? "Os pobres têm mais necessidades, estão mais esmagados pela injustiça. Você percebe isso na rua. Alguns quase pisam em cima, têm desprezo pela pessoa. É cada um por si e os outros que se danem. Precisamos mudar essa atitude."
Margarida diz que na classe média há muito "desprezo pelo mais pobre". A relação patroa-empregada é um exemplo. Em algumas partes do país, ainda há o pagamento de trabalho por comida: "Não respeitam o salário mínimo, o horário de trabalho".
Qual é o segredo para estar tão bem aos 90? "Trabalho muito [como voluntária em ONGs de direitos humanos] e faço o que eu gosto. Também me cuido. Faço ginástica, senão os ossos enferrujam.
Eleonora de Lucena - Folha.uol.com.br

quarta-feira, 6 de março de 2013

“Vocações diversas para uma grande missão: Somos todos responsáveis!”


Exultamos de alegria 
e as nossas vozes se elevam em ação de graças 
por mais este dom da graça do Senhor.

No último fim de semana, 1, 2 e 3 de março, aconteceu na, Diocese de Oliveira, o I Congresso Vocacional com as pastorais afins, assessorado pelo Pe. Valdecir Ferreira, assessor da CNBB para a pastoral vocacional, e contando com a participação de cerca de 150 pessoas de toda a Diocese, membros de diversas pastorais, dando-nos a oportunidade de refletirmos em conjunto sobre a responsabilidade que nos cabe de cultivar vocações.
Esteve conosco durante todo o Congresso o nosso Bispo, Dom Miguel, que em sua fala nos disse, citando São João Bosco que “não faltam vocações á Igreja”, pois, o Senhor sabe as necessidades, talvez falte algo de nossa parte, no empenho, no testemunho...
Foi-nos apresentada, pelo Pe. Valdecir, a grande necessidade de se criar uma pastoral de conjunto, que procure compreender e se aproximar da juventude, com seu modo sempre novo e criativo de viver e se expressar!
“Somos todos responsáveis”, foi parte do tema proposto, do qual surgiu a pergunta “será que somos conscientes desta responsabilidade?”
O nosso querido Beato João Paulo II nos lembra que “a pastoral vocacional, longe de ser algo acidental ou facultativo na Igreja é muito pelo contrário, indispensável na vida íntima dessa mesma Igreja e na construção do Reino, pois, é a Pastoral Vocacional que gera seus construtores”.
A semente foi lançada, estamos lutando para regá-la e esperamos ansiosos que o Senhor faça crescer!
Ir. Maria Elisângela, OMJ



segunda-feira, 4 de março de 2013

Por que as pessoas sofrem?


Dona Antonia estava trabalhando em seu jardim quando se aproxima uma linda garotinha e lhe diz:
- Vó, por que as pessoas sofrem?
- Como é, minha neta?
- Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
- Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
- Vó...
- Oi
- Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
- É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
- Não, Vovó
- Você lembra da estorinha do Patinho Feio?
- Lembro.
- Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado  e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.
- O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
- Bem, quando nascemos temos a natureza de cisne, mas, muitas vezes, somos levados a acreditar e viver como patinhos tentando aceitar o que os outros dizem que está certo ou é melhor para nós. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.
- É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
- É por isso! Viu como você é esperta?
- Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
- Na verdade, minha querida, encontrar a nossa verdadeira imagem não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
- O que?
- Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato.
- E como se faz isso?
- Parando de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
- Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
- Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
- É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
- Não entendi, minha filha?
- Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro... Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
- Em parte, todos nós somos querida.
- Ele vai descobrir quem ele é de verdade?
-Vai, minha filha, vai. Mas quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós, para revelar nossa verdadeira imagem. Temos que ser humildes e procurar ajuda até encontrarmos.
- E ai viramos cisnes?
- Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
O rosto da menina se iluminou e ela se virou depressa para ir embora. A vó preocupada perguntou:
- Aonde você vai minha querida?
- Vou contar pro papai o cisne bonito que ele é!