Falar de sonhos e ideais
sólidos numa sociedade cada vez mais heterogênea como a de hoje – como diria o
sociólogo Zygmunt Bauman, marcada por infinitas possibilidades e escolhas, pela
liquidez nas relações e, sobretudo, pela notória fragilidade dos sentimentos e
desejos humanos- parece um discurso meramente utópico. Afinal, para que perder
tempo com sonhos demorados, se a felicidade pode ser “comprada” agora?
O fato é que o homem contemporâneo, de modo geral, está
demasiadamente habituado às facilidades dos sonhos prontos, dos caminhos
isentos de desafios e dos resultados imediatos. Mais cômodo, portanto, é
“comprar” pequenos momentos de alegrias nos grandes shoppings centers ou ainda gastar fortunas em passeios
glamorosos de finais de semana e sentir-se realizado por algumas horas… Simples
assim!
Mas quantos realmente sonham e
lutam por um grande ideal (pessoal ou coletivo)? Quem seria realmente capaz de
encarar as próprias angústias e, sem máscaras, reconhecer o vazio oculto na
(aparente) felicidade?
O admirável Papa Francisco, por ocasião de sua vinda ao
Brasil, proclamou que “a juventude é a janela pela qual o futuro entra no
mundo”. Ao fazer tal afirmativa, não estaria ele, colocando nas mãos do jovem a
nobre tarefa de transformar a chamada “sociedade líquida” num campo fértil de
relações sólidas, profundas e verdadeiras, onde o amor seja capaz de suplantar
o ódio e a indiferença? Afinal, a juventude, dotada de aptidões e peculiar
criatividade, não pode deixar-se moldar pelas façanhas do mundo sem
questionar-se enquanto sujeito pensante, virtuoso e transformador da história.
As belas e encorajadoras palavras de Francisco ratificam
o que há muito tempo afirmou, tão sabiamente, o Bem Aventurado Tiago Alberione:
“A juventude é o amanhã da vida, não é um capítulo separado do restante da
existência nem é o prefácio de um livro. É a premissa de tudo. É a semente de
onde brota tudo. É o alicerce sobre o qual deve apoiar-se o grande edifício da
vida”. Que majestosa e bela missão!
As janelas da vida se abrem em cada alvorecer, para que
os grandes e pequenos sonhos humanos se tornem realidade. Todavia, a “batalha”
para se chegar a uma grande conquista, a uma mudança pessoal ou coletiva é algo
processual e, não raras vezes, árdua e severa. Por isso, cultivar a fé e a
autoconfiança é algo imprescindível na vida de todo sonhador.
O sonho é o combustível indispensável às lutas e
conquistas, essa força indomável que nutre esperanças e aponta novos horizontes
e possibilidades. O idealista não é alguém que finge felicidade, mas um
entusiasta da vida que aprendeu o valor do tesouro antes mesmo de encontrá-lo.
Aí reside o segredo de acreditar por si! Na arte do sonho, encontram-se as
razões para crer nos valores da própria existência. O jovem que não sonha e
que, neste vasto mundo de possibilidades, não sabe aonde ir, facilmente se
perderá em caminhos indicados por outros, os quais nem sempre o levarão à
autorrealização.
Que sonhos você ainda cultiva
no peito? O que você tem feito para torná-los reais?
O tempo passa e, com ele, surgem novas inquietações e
experiências, novos caminhos e horizontes. No entanto, se você parasse por
alguns instantes e revisitasse os caminhos pelos quais passou há alguns anos,
certamente reencontraria vários sonhos dos quais muitos lhe pareciam
importantes, mas que hoje talvez não possuam nenhuma relevância em sua vida. A
bela canção de Oswaldo Montenegro, “a lista”, reflete exatamente isso: “faça
uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar! Quantos amores
jurados pra sempre, quantos você conseguiu preservar…”.
Viver é estar aberto ao novo, é acreditar no amor e na
pureza de espírito quando a sociedade difunde o contrário. É urgente não perder
o encanto pela vida nem o entusiasmo perante os sonhos que se acredita. Não
obstante os desafios e incertezas do tempo presente, sonhar é uma urgência da
alma. O sonho, assim como a esperança, é o que dá sentido e leveza ao existir
humano.
Jovem, você não nasceu para abrir as cortinas do mundo e
ficar apreciando o “espetáculo” da vida. Não! Você pode e deve ser muito mais
que mero espectador. Ouso dizer que a sociedade contemporânea anseia por jovens
insatisfeitos e “anormais”, sim, porque ser normal, hoje, é ser igual a todo
mundo. Mas que mérito há em reproduzir ideias prontas e percorrer estradas
aplainadas por outros, quando se é capaz de construir seus próprios caminhos?
Mais que efêmeros momentos de prazer e alegria, como disse Charles Chaplin, “a
juventude precisa de sonhos!”.
Autor: Francisco Galvão - seminarista Paulino
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