O
tema “Carismas e Ministérios na Igreja” é desafiador e inquietante. Para
entender um pouco mais sobre ele,
vamos buscar ajuda em um dos documentos dos bispos do Brasil que tratou
especificamente sobre esse tema: é o Documento 62 da CNBB: “Missão e Ministérios dos cristão leigos e leigas”.
O
documento afirma que é a missão da Igreja evangelizar, isto é, continuar a
missão de Jesus Cristo (servo-Mc 10,45). Tal missão se aprofunda à medida que a
Igreja é capaz de prestar atenção aos sinais dos tempos e às mudanças na
história. Dessa forma, evangelizar é um dever fundamental de todo o Povo de
Deus. Essa missão se realiza com sua variedade de vocações e ministérios.
A partir da primeira carta de São
Paulo aos Coríntios, podemos afirmar que ministérios são dons de Deus
concedidos à Igreja, pelo Espírito, para sua edificação.(Cf. I Cor 12,4-11),
pois, na origem dos mesmos, está a iniciativa de Deus. Teologicamente, a
vocação é um chamado que Deus dirige ao ser humano, individual ou
coletivamente, para uma missão ou serviço em favor da comunidade.
Portanto, devemos ter claro que
Jesus institui (inaugura), por meio de seu Espírito, uma nova comunhão
fraterna, em seu corpo que é a Igreja, na qual todos os membros, como família,
prestam serviços recíprocos, segundo os diversos dons a eles concedidos.
Somente assim, temos uma Igreja ministerial, isto é, onde se vive a variedade
de Carismas, Serviços e Ministérios. Onde “a cada um é dada a manifestação do
Espírito para a utilidade comum”(I Cor 12,7). Esses carismas, sejam os mais
eminentes, sejam os mais simples, devem ser recebidos com gratidão e
consolação, pois, são perfeitamente adequados e úteis às necessidades da Igreja
que, atenta às indicações do Espírito Santo, estrutura e organiza essa
diversidade de carismas, serviços e ministérios em função de suas necessidades
internas e dos desafios de sua missão no mundo.
A
partir disso que foi dito, podemos destacar três elementos que constituem o
ministério: a) Dom de Deus, b) Resposta livre da pessoa que o acolhe com gratidão
e disponibilidade; c) Missão em favor da comunidade.
Tudo isso nos possibilita repensar os conceitos e a forma de encarar a diversidade vocacional e ministerial, ou
seja: toda vocação é iniciativa divina e tem sua raiz/fonte na vocação cristã (seguimento
de Jesus Cristo, através e a partir do Batismo) e são expressão da
ministerialidade (serviço/missão) da Igreja no mundo.
Outras duas definições:
1ª. O documento 62 da CNBB(Conferência dos Bispos do
Brasil), em seus números 83 e 85, afirma que “Ministério é um Carisma que
assume a forma de serviço à comunidade e à sua missão no mundo e na Igreja que,
por esta é como tal acolhido e reconhecido”. Mas, só pode ser
considerado ministério o Carisma que, na comunidade e em vista da missão na
Igreja e no mundo, assuma a forma de serviço bem determinado envolvendo um
conjunto mais ou menos amplo de funções, que responda às exigências permanentes
da comunidade e da missão, seja assumida com estabilidade, comporte verdadeira
responsabilidade e seja acolhido e reconhecido pela comunidade eclesial”.
2ª. O teólogo e bispo italiano, Bruno Forte, define ministério como “um carisma em estado de serviço
reconhecido pela Igreja”.
Reflitamos um pouco mais sobre as duas palavras que aparecem nas duas definições:
Carisma e Serviço.
Carisma: termo usado muitas vezes no Novo
Testamento, significando “dom divino”, um Dom de Deus. Um só é o carisma dado
às pessoas: O Espírito Santo. Portanto, o Carisma fundamental é a presença do
Espírito Santo em nós. Dele provém nossa salvação que culmina na vida eterna.
Essa presença se realiza em nós como amor, carisma ao qual tudo converge. A
graça de Deus é, portanto, o fruto da ação eficaz do Espírito Santo em nós. Uma graça dada diretamente para
o bem da comunidade, isto é, para a edificação da Igreja. Este é o verdadeiro significado da palavra
carisma: dom gratuito do Espírito Santo, dado para a construção da Igreja, a
difusão da salvação de Cristo”.
Para Yves Congar, Carisma é um dom, ao mesmo tempo da natureza e da graça, que torna
alguém apto a colocar-se a serviço.
Ontologicamente, isto é, por
natureza, somos todos iguais, temos dignidade comum: “Cristãos/ãs –
Batizados/as”.
Teologicamente, um membro se difere
de outro na Igreja pela diversidade de carismas.
Serviço:
É uma atividade exercida pelos fiéis, movidos pela fé, sem a necessidade de
reconhecimento da Igreja: o agir deriva
da vocação própria.
Para o documento 62 da CNBB, a
“diferença entre serviço cristão e ministério(...) deve-se ao fato de que o
ministério implica sempre maior ou menor representatividade da Igreja e compromisso das autoridades eclesiais
correspondentes em relação à pessoa que o exerce”.
Se retomamos as duas definições de
ministérios, tendo clara a distinção entre carisma e serviço, fica claro que a
“recepção ou reconhecimento do ministério pela comunidade eclesial é essencial
ao ministério, porque o ministério é uma atuação pública e oficial da Igreja,
tornando seu portador, num nível maior ou menor, seu representante” (Doc. 52, n. 86).
Na base do agir ministerial, está a
presença do Espírito Santo que doa à comunidade cristã diversos carismas/dons
de que ela necessita para ser presença salvífica no mundo. Sendo assim, o
exercício ministerial não é um privilégio ou poder sobre as demais pessoas, mas
uma doação de si a exemplo de Jesus-Servo. Doar-se, servir é parte integrante
do ser batizado.
Ir. Clotilde Prates de Azevedo, ap
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