sábado, 26 de abril de 2014

Carismas e Ministérios na Igreja

O tema “Carismas e Ministérios na Igreja” é desafiador e inquietante. Para entender um pouco mais sobre ele, vamos buscar ajuda em um dos documentos dos bispos do Brasil que tratou especificamente sobre esse tema: é o Documento 62 da CNBB: “Missão e Ministérios dos cristão leigos e leigas”.
O documento afirma que é a missão da Igreja evangelizar, isto é, continuar a missão de Jesus Cristo (servo-Mc 10,45). Tal missão se aprofunda à medida que a Igreja é capaz de prestar atenção aos sinais dos tempos e às mudanças na história. Dessa forma, evangelizar é um dever fundamental de todo o Povo de Deus. Essa missão se realiza com sua variedade de vocações e ministérios.
            A partir da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, podemos afirmar que ministérios são dons de Deus concedidos à Igreja, pelo Espírito, para sua edificação.(Cf. I Cor 12,4-11), pois, na origem dos mesmos, está a iniciativa de Deus. Teologicamente, a vocação é um chamado que Deus dirige ao ser humano, individual ou coletivamente, para uma missão ou serviço em favor da comunidade.
            Portanto, devemos ter claro que Jesus institui (inaugura), por meio de seu Espírito, uma nova comunhão fraterna, em seu corpo que é a Igreja, na qual todos os membros, como família, prestam serviços recíprocos, segundo os diversos dons a eles concedidos. Somente assim, temos uma Igreja ministerial, isto é, onde se vive a variedade de Carismas, Serviços e Ministérios. Onde “a cada um é dada a manifestação do Espírito para a utilidade comum”(I Cor 12,7). Esses carismas, sejam os mais eminentes, sejam os mais simples, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois, são perfeitamente adequados e úteis às necessidades da Igreja que, atenta às indicações do Espírito Santo, estrutura e organiza essa diversidade de carismas, serviços e ministérios em função de suas necessidades internas e dos desafios de sua missão no mundo.
A partir disso que foi dito, podemos destacar três elementos que constituem o ministério: a) Dom de Deus, b) Resposta livre da pessoa que o acolhe com gratidão e disponibilidade; c) Missão em favor da comunidade.
      Tudo isso nos possibilita repensar  os conceitos e a forma de encarar   a diversidade vocacional e ministerial, ou seja: toda vocação é iniciativa divina e tem sua raiz/fonte na vocação cristã (seguimento de Jesus Cristo, através e a partir do Batismo) e são expressão da ministerialidade (serviço/missão) da Igreja no mundo.
              Outras duas definições:
1ª. O documento 62 da CNBB(Conferência dos Bispos do Brasil), em seus números 83 e 85, afirma que “Ministério é um Carisma que assume a forma de serviço à comunidade e à sua missão no mundo e na Igreja que, por esta é como tal acolhido e reconhecido”. Mas, só pode ser considerado ministério o Carisma que, na comunidade e em vista da missão na Igreja e no mundo, assuma a forma de serviço bem determinado envolvendo um conjunto mais ou menos amplo de funções, que responda às exigências permanentes da comunidade e da missão, seja assumida com estabilidade, comporte verdadeira responsabilidade e seja acolhido e reconhecido pela comunidade eclesial”.
. O teólogo e bispo italiano, Bruno Forte, define ministério como “um carisma em estado de serviço reconhecido pela Igreja”.
Reflitamos um pouco mais sobre as duas palavras que aparecem nas duas definições: Carisma e Serviço.
Carisma: termo usado muitas vezes no Novo Testamento, significando “dom divino”, um Dom de Deus. Um só é o carisma dado às pessoas: O Espírito Santo. Portanto, o Carisma fundamental é a presença do Espírito Santo em nós. Dele provém nossa salvação que culmina na vida eterna. Essa presença se realiza em nós como amor, carisma ao qual tudo converge. A graça de Deus é, portanto, o fruto da ação eficaz do Espírito  Santo em nós. Uma graça dada diretamente para o bem da comunidade, isto é, para a edificação da Igreja. Este é o verdadeiro significado da palavra carisma: dom gratuito do Espírito Santo, dado para a construção da Igreja, a difusão da salvação de Cristo”.
            Para Yves Congar, Carisma é um dom, ao mesmo tempo da natureza e da graça, que torna alguém apto a colocar-se a serviço.
            Ontologicamente, isto é, por natureza, somos todos iguais, temos dignidade comum: “Cristãos/ãs – Batizados/as”.
            Teologicamente, um membro se difere de outro na Igreja pela diversidade de carismas.
            Serviço: É uma atividade exercida pelos fiéis, movidos pela fé, sem a necessidade de reconhecimento  da Igreja: o agir deriva da vocação própria.
            Para o documento 62 da CNBB, a “diferença entre serviço cristão e ministério(...) deve-se ao fato de que o ministério implica sempre maior ou menor representatividade da Igreja e  compromisso das autoridades eclesiais correspondentes em relação à pessoa que o exerce”.
            Se retomamos as duas definições de ministérios, tendo clara a distinção entre carisma e serviço, fica claro que a “recepção ou reconhecimento do ministério pela comunidade eclesial é essencial ao ministério, porque o ministério é uma atuação pública e oficial da Igreja, tornando seu portador, num nível maior ou menor, seu  representante” (Doc. 52, n. 86).

            Na base do agir ministerial, está a presença do Espírito Santo que doa à comunidade cristã diversos carismas/dons de que ela necessita para ser presença salvífica no mundo. Sendo assim, o exercício ministerial não é um privilégio ou poder sobre as demais pessoas, mas uma doação de si a exemplo de Jesus-Servo. Doar-se, servir é parte integrante do ser batizado.
Ir. Clotilde Prates de Azevedo, ap

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