Em 20 de Julho de 1936, num período de fortes tensões
políticas na Espanha, anarquistas armados se puseram às portas do seminário dos
Missionários do Coração de Maria (Claretianos) em Barbastro. Queriam revistar a
casa para ver se tinham armas. Durante a revista, toda a comunidade desceu para
o pátio interior onde se podia jogar futebol e caminhar. Eram 60 religiosos,
dos quais 39 estavam acabando seus estudos teológicos, dois eram argentinos que
salvaram suas vidas por serem estrangeiros, nove sacerdotes e doze irmãos
missionários. Só faltavam dois: um seminarista que estava de cama com febre
alta e um irmão idoso de 84 anos que estava impossibilitado de descer as
escadas. A casa foi revistada várias vezes, dos telhados à igreja e até a caixa
de um velho relógio de parede. Mas aquela comunidade era pacífica, estudiosa,
austera, pobre e de um idealismo cristão a toda prova. Os anarquistas estavam
desconcertados e perguntavam onde estavam as armas? “Aqui não há armas”,
respondeu o superior da casa, pois eram uma comunidade religiosa e missionária.
Prenderam a todos em uma sala e tentaram fazer abdicar de sua fé e vocação. Ao
verem que não conseguiam vergar aqueles valentes cristãos, disseram claramente
qual seria a causa da sua morte: "Não
vos odiamos a título pessoal, mas sim à vossa religião, a vossa batina, esse
trapo repugnante. Se as tirarem, pouparemos vossas vidas. Mas a matar-vos, será
com ela vestida, e assim sereis com a batina enterrados". Assim
souberam eles porque os perseguiam. Morreriam mártires por Jesus Cristo, e nada
mais que por Jesus Cristo.
No dia 12 de agosto, logo após as execuções dos Claretianos
de mais idade, apresenta-se no salão cárcere um dos membros do comitê
anarquista, com vários pistoleiros, para fazer a lista negra, por ordem de
idade, dos nomes dos jovens que seriam assassinados. Era o catálogo dos
mártires através do qual iriam ser chamados, noite após noite, para a sangrenta
chacina. Começaram a preparar-se, fervorosamente, para a morte. Confessavam-se
e pediam perdão, mutuamente, por suas faltas. Beijavam os pés uns dos outros e
abraçavam-se com profundo afeto. Todos fizeram constar por escrito que
perdoavam seus verdugos e se comprometeram a rogar por eles e pelas causas
sociais da Espanha. Um destes jovens, chamado Faustino Perez, escreveu:
“Passamos o dia em religioso silêncio e preparando-nos para morrer amanhã.
Somente o murmurar santo das orações é sentido na sala, testemunho de nossas
duras angústias. Se falamos é para animar-nos a morrer como mártires; se
rezamos é para perdoar e pedir por eles. Salvai-os, Senhor, pois não sabem o
que fazem!”.
Em papeis que embrulhavam os chocolates que lhes ofereceram
para o pequeno-almoço, cada um escreveu um lema, uma frase que resumia o seu
ideal de vida, e de seu martírio. Quarenta assinaturas que escrevem uma das páginas
da Igreja Católica do século XX: "Viva Cristo-Rei!"; "Viva
o Coração Imaculado de Maria!"; "Morro contente por
Deus!... Nunca imaginei ser digno de receber esta Graça!"; Por
Ti, Meu Deus, pela Santíssima Virgem meu sangue dou!".
Às 24h00 do dia 13, irrompiam os milicianos no salão
cárcere. Leram 20 nomes, em que cada um era vigorosamente respondido com um "Presente!".
Alguns beijavam com amor as cordas que lhes atavam as mãos, e todos dirigiam
palavras de perdão aos seus verdugos. Atravessaram a praça cheia de gente. E ao
subirem em uma caminhonete gritavam entusiasticamente: "Viva
Cristo-Rei!", e os presentes respondiam: "Morram,
morram! Canalhas, vão ver o que vos espera no cemitério!". Era
uma cena impressionante, pois ao longo da noturna viagem de 3 quilometros em
cima da caminhonete, cantavam e rezavam alegres! Diz o relato de uma testemunha
dessa noite: "Todo Barbastro os ouviu! Todos cantavam cânticos
religiosos. E eram inocentes como anjos!".
Recusada a última oferta de liberdade em troca da
apostasia, morreram com o nome de Jesus nos lábios, como confessou um dos
assassinos: "Com os braços abertos, em cruz, e gritando Viva
Cristo-Rei, receberam a descarga dos projeteis".
A meia-noite do dia 15, os vinte mártires restantes
iam para o Céu, celebrar a grande festa da Assunção. Animados pelo exemplo dos
seus colegas anteriores, deixaram escrito: "Morremos todos
contentes, e nenhum de nós sente desânimo ou pesar".
Em outubro de 1992 houve a cerimônia de beatificação
dos 51 mártires de Barbastro pelo papa João Paulo II. No final da Missa, o papa
emocionado, exclamou: "Pela primeira vez na História da Igreja,
todo um Seminário é Mártir!".
somente pela fe neste jesus
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