Durante o evento Black
Women in Hollywood (Mulheres negras em Hollywood), organizado pela revista “Essence” em um hotel
em Los Angeles, três dias antes da grande premiação do Oscar, Lupita Nyong’o na
fez um discurso que deixou Oprah Winfrey (bastante citada na fala, aliás),
Spike Lee e Kerry Washington com lágrimas nos olhos.
Leia abaixo integra do discurso.
"Quero aproveitar essa oportunidade para falar
de beleza. Beleza negra. Recebi uma carta de uma garota e gostaria de
compartilhar um pequeno trecho com vocês. 'Querida Lupita, acho que você tem
muita sorte por ter tanto sucesso em Hollywood mesmo sendo tão negra". Eu
estava a ponto de comprar o creme Whitenicious da Dencia para clarear minha
pele quando você apareceu no meu mundo e me salvou'.
Meu coração sangrou um pouco quando li essas
palavras. Eu nunca imaginaria que meu primeiro trabalho fora da escola seria
tão poderoso e que me tornaria esse tipo de imagem de esperança do mesmo jeito
que as mulheres de 'A cor púrpura' foram para mim.
Lembro do tempo em que eu também me achava feia. Eu
ligava a TV e só via peles claras. Fui insultada e provocada por causa da cor
da minha pele. E minha única prece para Deus era no sentido de pedir que
acordasse no dia seguinte mais clara. (...) E todo dia eu experimentava a mesma
frustração de estar tão negra quanto o dia anterior. Tentei negociar com Deus:
disse que nunca mais roubaria cubos de açúcar no meio da noite se ele me desse
o que eu queria; disse que ouviria cada palavra que minha mãe dissesse e que
nunca perderia meu suéter do trabalho de novo se ele me tornasse mais clara.
Mas imagino que Deus não tenha se impressionado muito com minha barganha,
porque ele nunca ouviu.
Quando me tornei adolescente passei a me odiar
ainda mais, como se pode imaginar que aconteça na adolescência. Minha mãe
tentava me dizer que eu era linda, mas não tinha consolo: ela é minha mãe, é
claro que vai pensar e dizer isso. E aí Alek Wek apareceu na cena
internacional. Uma modelo celebrada, negra como a noite, estava em todas as
pistas e em todas as revistas e todo mundo estava falando sobre como ela era
bonita. Até Oprah disse que ela era linda, e isso se transformou em um fato.
Não conseguia acreditar que as pessoas estavam considerando uma mulher que se
parecia tanto comigo bonita. Minha pele sempre foi um obstáculo a ser superado
e, de repente, Oprah estava me dizendo que não era.
Quando vi Alek inadvertidamente eu vi um reflexo de
mim mesma que eu não podia negar. (...) Mas para as pessoas que eu pensavam que
importavam, eu ainda era feia. E minha mãe me dizia: "Você não pode comer
beleza. Isso não te alimenta." E essas palavras me incomodavam: eu não
entendia o que queria dizer até compreender que beleza não era uma coisa que eu
poderia adquirir ou consumir, era algo que só poderia existir.
E o que minha mãe quis dizer quando falou que você
não pode comer beleza é que você não pode confiar apenas na aparência para se
sustentar. O que é bonito é fundamentalmente compaixão por si mesmo e para
aqueles ao seu redor. Esse tipo de beleza inflama o coração e encanta a alma.
(...) Então espero que minha presença nas telas e nas revistas possa te jogar,
jovem menina, em uma jornada similar. Que você possa sentir a validação de sua
beleza externa mas também se comprometa ao máximo em ser bonita por dentro. Não
existe sombra para este tipo de beleza."
Fonte: O Globo
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