segunda-feira, 8 de junho de 2015

Encontro Catequese - QUEM SEMEIA SEMPRE (A)COLHE

Duração: 50 min.
Materiais:
-        Pintura “O Semeador” de Albin Egger-Lienz impressa ou projeta-da
-        Bíblia
-        Réplicas da ilustração, em forma de postais
-        Canetas
-        Sementes e canteiro (opcional)

Objetivos:
o   Observar atentamente a ilustração como alegoria da nossa vida;
o   Refletir sobre o acolhimento que faço à Palavra de Deus;
o   Desafiar à adoção de um coração “boa terra”.

DESENVOLVIMENTO DA CATEQUESE
EXPERIÊNCIA HUMANA (15 min.)
Convidar a observar a ilustração.
Explorar: O que esta pessoa está a fazer? Já fizeram isto alguma vez? Como é que foi? Que instrumentos precisaste? E a terra onde se deita a semente também precisa de cuidados? E as sementes germinam sempre? O que é preciso para que cresçam e dêem fruto? Mas, a imagem mostra que o semeador não está sozinho… Quem apa-rece mais? As aves, os pássaros. O que querem eles fazer? Que cuida-dos deve ter, então, o semeador? Se o catequista considerar oportuno, prepare um pequeno canteiro onde as crianças possam semear alguns grãos e cuidar deles ao longo das próximas semanas: regar, espantar as aves, afastar as ervas, identificar as sementes e os frutos que daí advierem, etc.

PALAVRA (15 min.)
-          Ler, a partir da Bíblia, a passagem Mateus 13, 1-9
Explorar: O que aconteceu ao semeador?  Em quantos tipos de terra caiu a semente?   Será que esta semente pode significar outra coisa? O quê? As sementes eram de que tipo?
Explicar de forma semelhante a: A semente que o semeador lança podem ser os pedidos que Jesus nos faz, na oração. Para os conhecermos, precisamos de Lhe perguntar “O que queres de mim, Jesus?”. Quando uma pessoa ouve a Palavra de Deus e não compreende, chega o maligno (alguém ou alguma coisa que nos distrai, que parece mais interessante do que Jesus) e toma conta do que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a semente à beira do caminho.  Se alguém recebeu a semente em sítios pedregosos, é porque até ouve a Palavra e a acolhe num momento com alegria, mas não mantém o interesse e a semente não ganha raiz. É inconstante (começa a faltar à catequese e à Missa, desobedece aos pais e ao professor, mente, diz mal e não ajuda o seu amigo,…); se vier a tribulação, a perseguição, as dificuldades por causa da Palavra, desiste e afasta-se de Jesus.  O que recebeu a semente entre espinhos é o que ouve a Palavra, mas a preguiça, a falta de vontade e os convites para outras atividades levam a melhor e, por isso, não produz fruto; gosta de Jesus mas não é capaz de dizer não a outras tentações para estar mais tempo com Ele. E aquele que recebeu a semente em boa terra é o que ouve a Palavra de Deus e a compreende, escolhendo o que está certo no tempo adequado. Esse dá fruto e não se afasta de Jesus. Podemos perguntar tipos de sementes existe. Cada um de nós é chamado a receber a Palavra de Deus e a ser um tipo de sementinha. Na Igreja há vários tipos de sementes (estados de vida): o ser padre, o ser consagrado ou ser casado. O ser padre ou ser casado todos sabemos o que é. Os consagrados são todas as mulheres e homens que dedicam exclusivamente as suas vidas a adorar a Deus e a servir os irmãos, e que, por isso, são tratados por Irmãs e Irmãos. Mostrar o desenho com os vários estados de vida.
Canto à escolha
Concluir: Qual foi a intenção de Jesus ao contar esta parábola à grande multidão que o cercava à beira-mar? Vamos recordar os significados de cada um dos tipos de terreno apresentados?
Desafiar: Qual é o meu tipo de coração? Qual tem sido a minha reação ao que Jesus me pede? Será que Lhe pergunto o que Ele quer de mim? Que tipo de sementinha é que Ele me chama a ser? Os rapazes a serem padres e a servirem a Igreja com coragem e força? As meninas a serem Irmãs totalmente dedicadas a Deus? O meu coração tem estado duro e fechado à Palavra de Deus? Qual tem sido a minha reação quando aparecem outros convites e já tenho um compromisso com Jesus? Tenho mudado de atitude na minha vida? Como? Que tipo de terra quero ser? Porquê? O que posso fazer para que assim aconteça?
Olhando a imagem
Para que a semente lançada pelo semeador, que é Deus, possa nascer no nosso coração, temos de ter uma atitude interior de escuta. Devemos olhar o nosso coração, ouvir o que o Senhor tem para nos dizer e compreender. Mesmo perante os obstáculos e dificuldades, mesmo perante os momentos de Cruz, devemos entender a alegria que o Senhor tem em semear no nosso coração, todos os dias e em todos os momentos. Mas, se não formos capazes de Lhe abrir o coração, então não O poderemos ouvir e compreender…

EXPRESSÃO DE FÉ (20 min.)
Distribuir o postal com desenho do semeador a cada um dos catequizandos, bem como as canetas.
Convidar a rezar a Jesus, a fechar os olhos, a olhar para o coração e a perguntar que tipo de sementinha é que Jesus me chama a ser. Como é que as meninas se imaginam no futuro? Irmãs consagradas ou casadas? E os rapazes? Bons maridos, frades ou padres? Depois, no verso da postal, desenhar aquilo que ouviu ou sentiu Jesus a dizer-Lhe. Aquilo que Ele nos diz é que nos faz boa terra. Escrever ainda uma característica que deve melhorar para se tornar terra boa.
O catequista pode ler de cada vez pequenos trechos da oração, pausadamente, e convidar o grupo a repetir, depois dele:

ORAÇÃO
Senhor Jesus, hoje agradeço-Te por esta parábola que escutamos. Quero fazer da minha vida terra boa, onde a Tua semente possa dar muito fruto. Ajuda-me a ser melhor (dizer para si a característica em que pensou) para me tornar essa terra boa onde a Tua semente dá muito fruto. Quero também escutar-Te no meu coração, na oração do dia-a-dia e perguntar-Te: Jesus, que tipo de semente queres que eu seja?
Jesus, entrego-Te a minha vida!

COMPROMISSO

Entusiasmar a levar o postal para casa e a tê-lo num local visível, de modo que, na oração pessoal diária, pergunte a Jesus que tipo de sementinha Ele quer que seja e peça ajuda a Jesus para melhorar a característica que apontou, a fim de se tornar terra boa onde a Sua semente dê muito fruto.
Fonte: SAV Diocese de Braga - Portugal

sábado, 6 de junho de 2015

Deus Pai, fonte de toda a santidade,
envia novas vocações à Tua Igreja,
Servidores generosos
da humanidade ferida,
Evangelizadores
entusiasmados e corajosos,
Pastores santos,
que santifiquem o Teu povo
com a palavra e os sacramentos
da Tua Graça,
Consagrados que mostrem
a santidade do Teu Reino,
Famílias tocadas pela Tua beleza,
para que, pelo Teu Espírito Santo,
comuniquem a salvação de Cristo
a todas as pessoas da Terra.

Amém.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O desafio de encarnar os sonhos

Para decidir com responsabilidade
A vida não é uma nave tranquila que desliza sozinha ao porto da felicidade. Cabe a ti, em todo momento, tomar seu leme com a responsabilidade de definir a rota.
A ti toca decidir que experiência de amor vais fazer, como afrontar os dias de solidão, que tipo de felicidade vais buscar, que sentido darás a teus fracassos, como investir tuas qualidades em benefício da vida de todos.
Inclusive quando cruzas os braços e te deixas levar pela corrente, não deixas de ser tu o responsável de tua vida. Muitos poderão te ajudar, porém nenhum te substituirá no arriscado desafio de viver.
Tu és, em todo momento, o protagonista de teu futuro. Nas escolhas e decisões de cada dia estás traçando progressivamente teu rosto de amanhã. Nas amizades e simpatias que alimentas, em tua maneira de estar atento às necessidades dos outros, ou como te esforças na escola ou olhas o trabalho, na maneira como utilizas teu tempo e as coisas, nos sonhos que cultivas, em tudo isso estás escolhendo teu projeto de vida. Teus dias são um valioso laboratório no qual realizas a fórmula de uma vida bem orientada.
É importante, então, que assumas tuas decisões e respondas estas perguntas: te sentes verdadeiramente como a primeira pessoa responsável de teu futuro? Qual é o projeto de homem ou mulher pelo qual estás apostando tua vida?

Um exemplo de vida - Para não se contentar com a mediocridade
Carlo Urbani não era famoso. Os refletores da opinião públicos nunca se preocuparam de enfocá-lo. Ou, talvez, tenha sido ele que nunca os tenha procurado. Pensava em seu trabalho. Mesmo que “trabalho”, provavelmente, não seja a palavra adequada.  Era médico. E morreu exercendo sua missão de médico, atacado por um vírus que ele mesmo foi o primeiro a descobrir, um “veneno” que se chama SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome).

Ele não tinha uma clínica, tinha muitas. Havia trabalhado em Médicos sem Fronteiras, em lugares do mundo onde uma seringa esterilizada é uma valiosa conquista. Foi o Presidente da Associação, e em nome dela recebeu o prêmio Nobel da paz, em 1999. Logo passou para a Organização Mundial da Saúde, onde se dedicou a coordenar a área do sudeste asiático, com sede em Hanói, Vietnã.
Trabalhava muito, e em silêncio: “Não devemos ser egoístas, necessitamos pensar nos demais”, escreveu na última carta à sua esposa Giuliana. Somente aos amigos contava das suas experiências, dos relatos dos lugares que havia visto, a batalha cotidiana e quase infrutífera contra as enfermidades mais banais. E quando voltava para casa, em Castelplanio, nas montanhas da província de Ancona (Itália), escrevia o boletim da paróquia. “Ele era assim” – contou o pároco, Dom Mariano – “apresentava os informes oficiais dos congressos da Organização Mundial da Saúde, e logo encontrava tempo de escrever em nosso jornal paroquial, ou se oferecia durante meio dia para contar às crianças do catecismo como viviam as crianças pobres do mundo”.
Sua vida encontra-se resumida entre duas datas: 19 de outubro de 1956 - 29 de março de 2003. Quarenta e sete anos de vida em plenitude!

Se não tens um sonho não vives plenamente
Em uma das cartas que Carlo escreve a um dos seus irmãos é possível captar toda a riqueza e a força de sua personalidade, de seus ideais de vida.
 “Cresci acreditando que poderíamos realizar nossos sonhos e agora eu creio haver conseguido. Meus sonhos se tornaram minha vida e meu trabalho. Meus anos de trabalho me permitiram de viver hoje perto dos problemas, aqueles mesmos que sempre me interessaram e inquietaram. Esses problemas vieram a ser os meus, porque sua solução constitui o desafio cotidiano que devo superar. Meu sonho de tornar a saúde acessível às camadas da população menos favorecida, tornou-se meu trabalho. Eu educarei os meus filhos no meio desses problemas, acreditando que eles se tornarão plenamente conscientes dos grandes horizontes que os envolvem e que perseguirão sonhos aparentemente inacessíveis, como eu fiz”.

Aqui paro e… penso
§  Carlo tinha um sonho e queria realizá-lo.
§  Os problemas que Carlo devia enfrentar se transformaram em desafios para ele.
§  A preocupação de Carlo era fazer seus filhos verem os grandes horizontes que os rodeiam.
§  A força de Carlo foi descobrir que alguns sonhos são inalcançáveis somente aparentemente.

ATIVIDADE:
1. Destacar e comentar frases e palavras significativas do texto.
2. Comentar a vida de pessoas que para você representam alguém que soube valorizar e realizar seus sonhos.
3. Pesquisar outros textos, poesias, letra de músicas que falam de sonhos e dialogar sobre o significado de seu conteúdo.

Fonte: Blog SAV Diocese de Vacaria-RS

terça-feira, 2 de junho de 2015

Andrea Bocelli cantou pela família em Barcelona

 O templo expiatório da Sagrada Família acolheu na quinta-feira o concerto do tenor italiano Andrea Bocelli, desta maneira começou a sua turnê mundial chamada “O grande Mistério: O Evangelho da família, escola de humanidade para os nossos tempos” organizado pelo Pontifício Conselho para a Família e que posteriormente seria realizado na Califórnia (Estados Unidos), Canadá e Polônia.

O concerto contou com a colaboração da Orquestra Sinfônica de Vallés, a violinista ucraniana Anastasiya Petryshak e o Coral Polifônico de Puig-reig.
O tenor italiano declarou: “Me sinto privilegiado pela fé e afirmou que também é “um dever preciso para cada um ser testemunha “ativas e alegres da mensagem cristã e divulgá-la tanto quanto seja possível através do exemplo”.
Bocelli recordou: “A interpretação ou a escuta de música sacra pode ser uma forma de oração”. E sobre a família, tema principal de sua excursão, afirmou: “Ela é o principal pilar da sociedade, é a insubstituível escola dos afetos, a instituição crucial para a expressão e a transmissão dos valores cristãos”.
Dom Vincenzo Paglia, presidente do Pontifício Conselho para a Família, não compareceu ao concerto como estava previsto, mas enviou o Pe. Andrea Ciucci da diocese de Milão como seu representante.
“O amor entre o homem e a mulher são imagem da sua Igreja, o Grande Mistério”. Este também é o título da excursão de Bocelli, comentou o Pe. Ciucci.
O Cardeal Lluìs Martínez Sistach, arcebispo de Barcelona, que esteve presente no concerto afirmou por sua parte: “A família surge do matrimônio e é um bem incomparável para o bem-estar da pessoa e da sociedade humana”.
Bocelli também fará uma apresentação da sua turnê “O grande mistério” no Encontro Mundial das Famílias na cidade de Filadélfia, Estados Unidos.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O desapego que quebra grilhões

A FEBRE DA AMBIÇÃO
Quantos grilhões! Estamos atados, sufocados, oprimidos. Transformamo-nos pouco a pouco em esponjas que só necessitam absorver coisas. Isso nos adoece.

Na realidade, mais que gozar e desfrutar, o que procuramos é possuir. Aí está o problema. Queremos ser donos das pessoas e das coisas que nos fazem sentir seguros. Vivemos numa época de tremenda obsessão, de uma avidez desesperada que constitui o funcionamento da sociedade de consumo. Porque, para vender-nos coisas, ela precisa que nos tornemos dependentes. Já o conseguiu, porque a publicidade está cada vez mais elaborada para que sejamos levados a sair e comprar. Há uma tremenda necessidade de olhar produtos e de comprar coisas: roupas, telefones, acessórios da internet, elementos de beleza, coisas para a saúde, objetos para o lar etc. Uma pessoa que não tivesse de trabalhar passaria todos o tempo fazendo compras, percorrendo shoppings e calçadões comerciais, e nisso consistira toda a sua vida. Pobre boneco inteiramente possuído e dominado pelos mecanismos de mercado! Desse modo, alguns tentam dissimular e ocultar a depressão, angústias, vazios interiores. Por isso mesmo, a preocupação com o dinheiro é cada vez maior. Nossa paz é avaliada pelo dinheiro que temos para gastar, ou ao menos pelo dinheiro que poderemos ter  no futuro.
Mas também consumimos afetos e relações humanas. Precisamos de pessoas que nos deem carinho, que nos escutem, que nos aprovem e dependem de nós. Assim como possuímos objetos, pessoas para torná-las sua propriedade. Por isso, quando conseguimos que alguém seja nosso, interiormente sentimos o medo de perdê-lo. Estaremos sempre dependentes do que faça, procurando detectar se está se afastando de nós, se deixou de precisar de nós ou se ainda depende de nós.
O DESCANSO INTERIOR
Convença-se. Se continuar buscando na posse das coisas e pessoas a segurança que não lhe podem dar, você só se cansará e se preocupará cada vez mais. É um caminho inútil, sem saída. Em contrapartida, na desnudes total, pode-se descobrir que não há nada que temer, porque  o mais necessário não lhe falta, possui-o em seu interior: “Ó, pois, alma formosíssima entre todas as criaturas, que tanto desejas saber o lugar onde está o teu Amado, para buscá-lo e a ele te unires, já te foi dito que tu mesma és o aposento em que ele vive e o esconderijo onde está escondido. É coisa de grande contentamento e alegria para ti ver que todo o teu bem e esperança estão tão perto de ti, que estão em ti, ou, melhor dizendo, que não há maneira de que estejas sem ele... Deus nunca abandona a alma, ainda que ela se encontro em pecado mortal... Mas não o vás buscar fora de ti, porque te distrairás e te cansarás”  (São João da Cruz, Cântico Espiritual, I, 7-8).

Quando se enfrenta até o fundo sua solidão interior, descobre-se que aí está o Senhor batendo à porta, com toda a força curativa de seu amor divino. Recebendo esse amor, sentimo-nos dignos, sentimo-nos valorizados de fato, sentimo-nos reconhecidos de modo gratuito. Dessa forma, deixamos de ser mendigos exigentes e, nesse caso, poderemos dedicar-nos a dar amor aos outros sem esperar que nos devolvam algo. Só assim saberemos por fim o que é o amor.
Jesus lhe fez promessas de amor, ofereceu-lhe força interior, assegurou-lhe sua presença constante, abriu os braços para dar-lhe um abraço infinito e apresenta-lhe seu coração ferido que é fonte de vida. Por isso, proponho-lhe uma vez mais que se decida a crescer na amizade com Jesus e que renuncie a exigir dos homens ou das coisas o que apenas nele poderá encontrar.
Produz uma mudança muito grande quando percebemos que já possuímos aquilo que mais precisamos, o amor de Deus. Porque, nesse momento, começamos a sentir-nos donos do mundo sem possuí-lo. Sentimos que tudo é um presente do Amado, e isso preenche o coração, desde que não desejemos colher as coisas com que Deus nos brinda e aferrar-nos a elas. As colinas, o céu, a luz, as cores, a água, tudo é para mim, sem que eu precise torná-los posses minhas: “Para vier a possuir tudo, não queiras possuir algo em nada” (São João da Cruz, Subida ao monte Carmelo, I 13, 11). Essa é a liberdade interior proposta pelos místicos. Trata-se da libertação que produz quando se sente que se tem tudo porque se tem a Deus, e que o resto não é absolutamente necessário, porque é possível adaptar-se a tudo. Dessa maneira, o coração descansa, já não se fatiga nesse permanente desespero em busca de possuir coisas ou pessoas como condição para poder ter paz: “Não cobiçando nada, nada o fatiga... e nada o oprime, porque está no centro de sua humildade” São João da Cruz, Subida ao monte Carmelo, I 13, 13).

Victor Manuel Fernández – A força transformadora da mística p. 23-26

quarta-feira, 27 de maio de 2015

'Estou cumprindo uma missão', diz padre que abriga haitianos em SP

Foram servidos pratos típicos e bebidas alcoólicas. Bandas e rappers haitianos se apresentaram. O padre Paolo Parise, 48, estava exausto. Completava uma jornada de 16 horas sem descanso. E ainda teria que ajudar a equipe, composta por cerca de 50 funcionários e outros três padres, a limpar o salão da festa, onde têm dormido quase duas centenas de refugiados.

O número tende a aumentar. O governo Tião Viana (PT), do Acre, anunciou, no início da semana, que quase mil imigrantes viajariam a SP. O prefeito Haddad (PT) e o governo Dilma (PT) dizem que não foram avisados. O município afirmou que procuraria um abrigo. O governo federal suspendeu as viagens saindo do Acre. Mas, ainda na sexta (22), 43 haitianos aportaram na cidade. Sobrou para a paróquia. Com colchonetes no chão, caldeirões de sopa à noite e aulas básicas de português, a Missão Paz, organização católica da qual o padre faz parte, acolhe os imigrantes.
Em geral, Parise, italiano da região do Vêneto, acredita estar cumprindo a sua missão. Mas, às vezes, sente-se impotente. "Você arruma emprego para 20 e logo chegam mais 50. O estresse é psicológico e físico", descreve, em português fluente com resquício do sotaque italiano. "A equipe está sobrecarregada."  Que o prove a agenda de Paolo. Seus dias têm começado às 7h e terminado à meia-noite. O celular não para. Mas Parise parece treinado a lidar com adversidades. Mostra encantamento com cenas corriqueiras. Vê beleza nas tradições de pessoas mesmo quando estão no extremo da sobrevivência.
A festa da Bandeira era um desses momentos. Achava "maravilhosa" a liberdade com que os haitianos se expressavam por meio da língua crioula, da dança e da música. Mas tudo tem limite.

Às 23h30, o padre teve que, enfim, dizer não. "Dançar? Não, obrigado. Prefiro olhar sentado", recusou com o bom humor e o afeto costumeiros. Parise consagrou-se o padre dos haitianos em São Paulo. Chama-os pelo nome. Recebe visitas daqueles que, anos depois de instalados, ainda o procuram. Celebra casamentos e batizados.
A maioria é evangélica. Mas não só os 30% católicos se apegam. Todos estabelecem uma relação, que começa pela confiança, ele nota. A espiritualidade "aflora um pouquinho depois", uma vez digerido o drama da migração. O fato é que a presença haitiana nas missas de domingo é assídua. "Quando começamos com 'bonjour' [bom dia em francês], rostos se iluminam", observa Parise.
Sua missão não foi sempre essa. Na primeira passagem por São Paulo, entre 1999 e 2007, Parisi morou em favelas da zona sul e viveu "verdadeiras cenas de cinema".
O padre narra uma delas, com direito a briga entre mulheres, fuga de carro e mordida no braço. O trabalho com jovens logrou reduzir a violência, diz Parise, levando-o a se mudar.

"Somos parte de um grupo de padres meio malucos que, quando está tudo bem, vão embora", relata. Por ora, não há sinal de trégua. Mas que não venham tratá-lo como herói. "Eu infarto", brinca.

Fonte: http://www.portalmetropole.com