sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Lectio Divina - "O Amor é o centro da vida" Lc 10,25-42

Nossa vida é uma contínua busca, pois nossa fome e sede é sempre a de encontrar um sentido que nos leve a mais vida. E como viver para termos a vida por excelência, o dom de Deus que chamamos de vida eterna ou vida em plenitude? Devemos esperá-la para depois da morte ou podemos experimentá-la desde já? Qual o segredo que nos leva ela?

O amor é o centro da vida (Lc 10,25-28)
O especialista em leis quer colocar Jesus numa armadilha e pergunta o que deve fazer para herdar a vida eterna. Tratando-se de um especialista na legislação, a armadilha é ver se Jesus é fiel às Escrituras e se ele observa os 613 mandamentos que o judaísmo prescrevia.
Jesus não responde, mas devolve a pergunta ao especialista. Ele sabe que no tempo se discutia muito sobre qual seria o resumo e o núcleo fundamental de todos os mandamentos. O especialista responde, unindo Deuteronômio 6,5(amor a Deus) com Levítico 19,18(amor ao próximo). Notar que um só verbo comanda os dois mandamentos, mostrando que Deus e o próximo são como que as duas faces da mesma moeda do amor. O amor a Deus é a mística interna que rege a prática externa do amor ao próximo. O amor a Deus exige total devoção (coração, alma, força,mente), e o amor ao próximo total identificação ( como a si mesmo). Jesus aprova, e confirma que a vida, e portanto também a vida eterna, se encontra na experiência e na prática do amor. Tanto mais vida teremos quanto mais nos entregarmos à mística e à pratica do amor.

Amor é prática e não teoria (Lc 10,29-37)
O especialista em leis não se dá por vencido e coloca outra pergunta: “Quem é o meu próximo?” Isso também era muito discutido naquele tempo e ainda hoje está presente em nossas cabeças. O próximo é o parente, o amigo, o colega, os que são da mesma religião, raça, partido, classe social? Por trás disso tudo, o que se tenta é estabelecer as fronteiras do amor. Quem ficar fora da fronteira não merece nosso amor. Jesus não discute a teoria sobre o próximo. Em vez disso, conta uma parábola e novamente devolve a pergunta ao especialista. A estrada de Jerusalém a Jericó ainda hoje é perigosa, e tudo faz pensar que o homem que foi assaltado e quase morto é um judeu. O sacerdote e o levita vêem o homem caído e se desviam “pelo outro lado”. Certamente tinham boas teorias sobre o próximo, e não vale a desculpa de que tivessem medo de tocar um provável morto e ficar impuros, pois estavam vindo e não indo para o Templo em Jerusalém.
Em contrapartida, um samaritano, inimigo tradicional dos judeus, se aproxima, vê e se enche de compaixão, ou seja, “sofre junto” com o homem ferido. E começa a prática do amor. Ali mesmo faz os primeiros cuidados, coloca o ferido no seu jumento e, a pé, vai até uma pensão, onde continua a cuidar dele. No dia seguinte dá duas moedas (salário de dois dias) ao dono da pensão e compromete-se a pagar o que mais for gasto. A parábola descreve tudo o que samaritano fez, para salientar que a prática do amor não tem limites. É a necessidade do outro que diz o que deve ser feito e até que ponto se deve amar. Além disso, o amor quebra todas as fronteiras: o samaritano não se pergunta se aquele ferido era judeu ou não.
O próximo é qualquer pessoa que eu encontro. E Jesus pergunta ao especialista: “Qual dos três foi o próximo de homem que caiu na mão dos assaltantes?” Ou seja, quem foi que se tornou próximo dele? A questão muda radicalmente. O amor nasce da mística interna do amor a Deus, que faz com que nos aproximemos do necessitado e respondamos concretamente às suas necessidades. O especialista estava preocupado com a fronteira do amor. Jesus mostra que o amor é um centro que irradia ações práticas e não conhece nenhuma fronteira. O especialista reconhece isso, e a palavra misericórdia (= mandar o coração) mostra bem que torna-se próximo é entrar em sintonia com o outro e sofrer junto com ele (compaixão).  E, no fim, temos a ordem solene: “Vá, e faça a mesma coisa”. Em outras palavras, preocupe-se em realizar concretamente a prática do amor, sem se preocupar com as teorias sobre o próximo que merece o seu amor.

Três modos de ser e de viver
Na parábola são apresentados três modos de ser e de viver: o dos assaltantes, o do sacerdote e do levita, e o do samaritano. São três compreensões diferentes, que condicionam o ser e o comportamento das pessoas. O ladrão acha que “ o que é teu é meu”, e vive à espreita contínua do roubo e da exploração. O sacerdote e o levita acham que “o que é meu é meu”, e se fecham no que são e no que possuem, deixando que os outros “se virem”. Já o samaritano acha que “o que é meu é teu”, e reparte não só seu coração, mas também seu tempo e tudo o que possui. Não há outros modos de ser e de viver, e tudo nas relações entre as pessoas é governado por um desses modos. Resta ver qual deles nos encaixamos, lembrando que o evangelho está radicalmente do lado do samaritano da parábola.

Obedecer à palavra de Jesus (Lc 10,38-42)
A partir de João 11,1-44 sabemos que Jesus era amigo de Marta e Maria, que elas moravam em Betânia e que tinham temperamentos diferentes. Marta certamente está preocupada em preparar uma boa refeição, enquanto Maria se preocupa em ouvir Jesus. A resposta à reclamação de Marta mostra que mais importante do que simplesmente fazer as coisas é fazê-las de modo novo, inserindo tudo no projeto de Jesus. É a palavra de Jesus que mostra o que fazer e como fazer.
Não se diz o que Jesus estava falando a Maria, mas, colocando logo após Lc 10,25-37, o episódio frisa as duas ordens de Jesus (Lc
0,28 e 37). A grande ordem de Jesus é amor, cuja mística nos une a Deus e cuja prática nos une ao próximo. É o amor que revela o sentido da vida, fazendo-nos realizar com gosto e alegria aquilo que deve ser feito neste momento. E convém lembrar que o nome “Marta” significa “amargor”. De que vale fazer tudo, mas com amargor?

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