Urge recuperar o caráter de luz que é próprio da
fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por
perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo
capaz de iluminar toda a existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão
poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais
originária, deve porvir em última análise de Deus. A fé nasce no encontro com o
Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o
qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por
este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande
promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de
Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os
nossos passos no tempo. Por um lado, provém do passado: é a luz duma memória
basilar — a da vida de Jesus –, onde o seu amor se manifestou plenamente
fiável, capaz de vencer a morte. Mas, por outro lado e ao mesmo tempo, dado que
Cristo ressuscitou e nos atrai de além da morte, a fé é luz que vem do futuro,
que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso
« eu » isolado abrindo-o à amplitude da comunhão. Deste modo, compreendemos que
a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas.
Carta Enciclica Lumen Fidei, n. 2
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